quinta-feira, 28 de maio de 2015

Noel Rosa

Noel Rosa

Noel Rosa nasceu,viveu e morreu no mesmo chalé modesto da Rua Teodoro da Silva em Vila Isabel bairro do Rio de Janeiro que deve muito de sua fama musical aos sambas que o filho ilustre lhe dedicou.
Noel Rosa nasceu no Rio de Janeiro no dia 11 d dezembro de 1910.
Teve um parto difícil pois seu nascimento ameaçou sua vida e de sua mãe. Isso acrescentado da imperícia do médico que acompanhou seu nascimento fez com que durante seu nascimento o forcéps fraturasse uma de suas mandíbulas deixando-lhe um traço peculiar em sua fisionomia.
Noel Rosa foi o primeiro filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Marta de Medeiros Rosa.
Marcou sua personalidade o temperamento inquieto, satírico, crítico, transgressor já no período de escola (foi aluno do tradicional Colégio São Bento)
Cultivava um sentimento que desapareceu como tempo: o bairrismo. Ele e outros jovens do bairro de Vila Isabel tinham orgulho de seu bairro assim como o cidadão de hoje tem orgulho de sua cidade.

Características de sua Obra
Uma das características do samba de Noel Rosa é seu relacionamento com os artistas negros dos morros vizinhos ao bairro de Vila Isabel. Foi amigo do compositor Ismael Silva e do compositor Cartola.
Isso lhe causou muito preconceito pois acusaram-no de andar misturado com “gentinha”, más companhias. O fato é que Noel Rosa foi parceiro de muitos artistas negros oriundos do morros e foi influenciado por muitos artistas negros. Foi companheiro de boemia de vários deles.
Um de seus primeiros sucessos foi o samba “ Com que Roupa” de 1929. O motivo da criação da obra foi o seguinte. A mãe não gostava de que o compositor saísse com seus companheiros de boemia a noite e um dia escondeu-lhe as roupas. Quando os companheiros de noitada vieram buscá-lo ele não tinha roupa para vestir e então respondeu “Com que Roupas”
A letra da música de um humor peculiar é a seguinte:

Agora vou mudar minha conduta, eu vou para a luta
Pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa e eu pergunto:
Com que roupa ?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou ?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou ?
Agora, eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa, mas agora
Com que roupa ?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou ?
Com, que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou ?
Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo, eu vou acabar ficado nu
Meu paletó virou estopa e eu nem sei mais
Com que roupa ?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou ?
Com, que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou ?

Em “Quem Dá Mais” feito e gravado no primeiro ano do governo Getúlio Vargas um ano após a Revolução de Trinta já é um modelo de crítica ao novo governo. É a perspicácia de um jovem compositor já satirizando o notório desapego do brasileiro pelo que é seu..
Em “ Samba da Boa Vontade” Noel ousa comparar o Brasil a uma criança perdulária que anda sem vintém mas tem mãe que é milionária. Faz referência á crise do café e brinca com o otimismo que o novo regime receita para o brasileiro enfrentar os tempos difíceis.
Em Onde Está a Honestidade o compositor segundo biógrafos vinga-se dos desonestos burocratas que perseguiram seu pai.

Personalidade

A personalidade de Noel Rosa tem várias caraterísticas. Uma das principais é o humor judaico autodepreciativo de rir da própria desgraça e de satirizar as privações e mazelas pelas quais o brasileiro em geral passa.
Um dos seus primeiros biógrafos foi seu primo Jacy Pacheco.
Já foram apontadas em sua personalidade simpatias com o comunismo já devidamente contestadas por outros contemporâneos. O compositor em suas criações refere-se a pobreza, a fome ás dívidas suas e do brasileiro em geral
O Brasil de Noel Rosa era o Rio de Janeiro a capital da República o centro da vida política e cultural do qual ele raramente se afastou. Se afastou apenas para uma visita a São Paulo, uma estada em Belo Horizonte e excursões ao Sul ao norte fluminense e ao Espírito Santo mesmo assim estas viagens sendo ausências poucas e breves)
É o Rio de Janeiro que Noel canta quase sempre, principalmente Vila Isabel e sobretudo a Penha a qual dedicou mais sambas do que ao seu bairro. O Estacio vem em seguida assim como Salgueiro Mangueira Osvaldo Cruz, Matriz, Meier, Cascadura, Pavuna, Gamboa , Copacabana e Lapa todos mencionados de alguma forma em suas letras.
Foi acusado em tempos posteriores de ser racista e antisemita. A acusação de racismo originou-se da letra de Feitiço da Vila que segundo o acusador descartava os elementos básicos da oferenda da umbanda.
Em Noel Rosa já forma, como já foi dito apontados traços de antisemitismo que segundo seus detratores desmentiam o caráter libertário com que o aluno do São Bento se opôs a tudo que os beneditinos lhe ensinaram, inclusive conceitos declaradamente antisemitas (uma leitura de todos os números do Alvorada jornalzinho oficial do colégio, editados quando o compositor esteve no colégio é o bastante para que se saiba o que padres e professores pensavam a respeito do assunto)
O compositor também já foi visto como moralista condenando em uma música famosa a vida na malandragem musica em que responde á famosa apologia que o novato Wilson Batista fez da malandragem.
Ao contrário a vida dos malandros o fascinava. Amigo de malandros, alguns deles temidos, ás voltas com a lei Noel em vários outros sambas ao contrário os defende. E até os enaltece na figura do malandro homossexual , inspirado no famoso malandro homossexual Madame Satã, famosa figura marginal do bairro boêmio da Lapa no Rio de Janeiro.
Mas há também o Noel crítico dos estrangeirismos satirizando a adesão a modismos estrangeiros como na letra de “ Não Tem Tradução”:
O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que um xadrez
Lá no morro, se eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
Maia tarde o malandro deixou de sambar dando pinote
Na gafieira dançar o foxtrote
Esta gente hoje em dia que tem mania de exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I Love You
E este negócio de alô, alô boy e alô Jonnhy
Só pode ser conversa de telefone


Mulheres

Noel Rosa casou-se com Lindaura Martins em 1934, com quem passou quatro meses na casa dos tios, em Belo Horizonte onde esperava se curar da tuberculose que o afetava.
Mas o grande amor de sua vida, entre inúmeros casos amorosos, foi Juraci Correa de Moraes,a Ceci.
O romance entre Noel e Ceci começara na noite de São João de 1934 no cabaré Apolo um dos muitos da Lapa carioca de então. Ceci ainda trabalharia nele e em vários outros da região. Das muitas mulheres da vida de Noel foi sem dúvida a mais marcante.Foi musa de vários sambas do compositor. Entre eles “ Dama do cabaré”:]

Foi num cabaré da Lapa
Que eu conheci você
Fumando cigarro
Entornando champanhe no seu soirré
Dançamos um samba
Trocamos um tango por uma palestra
Só saimos de lá meia hora
Depois de descer a orquestra
Em frente a porta um bom carro nos esperava
Mas você se despediu e foi para a casa a pé
No outro dia lá nos Arcos eu andava
A procura da Dama do Cabaré
Eu não sei bem se chorei no momento em que lia
A carta que recebi não me lembro de quem
Você nela me dizia que quem é da boêmia
Usa e abusa da diplomacia
Mas não gosta de ninguém
Foi num cabaré da Lapa...

Fatos Marcantes da Vida do Compositor

Um fato da vida que abalou Noel Rosa foi o suicídio do pai abalando ainda mais o chalé modesto em que a família vivia. Com o tempo o compositor foi se tornando triste e melancólico abatido e pessimista tristeza e pessimismo que o acompanharam até o fim de sua vida.
Mas é seu espírito carioca que se manifesta e não apenas nos lugares aos quais se referiu. É também expresso e de forma muito mais representativa em sua galeria de tipos: o joão-ninguém, o joão teimoso, a maria fumaça, o malandro, a dama do cabaré, o agiota, o bicheiro, a mulata fuzarqueira, o atleta de ombreiras, o homossexual valente, a operária de fábrica, o pão-duro, o coronel ( o velho rico que sustentava moça bonita), o motorneiro e o guarda-civil. Todos retratados de maneira brilhante em suas musicas.
Não foi certamente o melhor compositor de seu tempo. O mais importante talvez por sua lírica inovadora. Não criou novo tipo de samba, mas foi pioneiro ao fundir os sons do asfalto ao do melhor samba carioca, aquele que negros iluminados como seus parceiros Ismael Silva, Cartola, Alcebíades Barcelos, Lauro dos Santos, O Gradim, Antenor Gargalhada, Heitor dos Prazeres criaram. Não tem uma musicografia irrepreensível. Algumas de suas composições na realidade são obras menores, quase brincadeiras, que não resistem a uma avaliação menos condescendente.
Mas são suas, sozinho ou não algumas das mais eternas canções da musica popular brasileira.