sexta-feira, 22 de julho de 2016

Sílvio Caldas



Sílvio Caldas

Deusa da Minha Rua ( Jorge Faraj - Newton Teixeira)

A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
È uma cascata de luz
Na rua uma poça d'água
Espelho de minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
A minh'alma comovida
E o meu pobre coração
Espelho da minha mágoa
Meus olhos são poças d'água
Sonhando com seu olhar
Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu , ela é nobre
Não vale a pena sonhar

Vida

Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas nasceu no Rio de Janeiro no dia 23 de maio de 1908 no bairro de São Cristóvão, o antigo bairro imperial do Rio . Era filho de Antônio Caldas, que tinha uma pequena fabrica de instrumentos era afinador de piano e compositor eventual. Sílvio cresceu em uma família intensamente musical, tendo quinze irmãos. Toda a a família era musical participavam de um bloco de Carnaval o que botou Sílvio na folia desde cedo. O bloco se chamava Família Ideal. As mulheres da família de Sílvio cantavam em festa de igreja os rapazes em festas mundanas. Murilo Caldas, irmão de Sílvio também chegou a ser cantor profissional nos anos 1930.
A já falada musicalidade da família de Sílvio levou-o a cantar muito cedo. A história conta que sua primeira apresentação foi aos cinco anos de idade no velho Teatro Fênix, no Centro do Rio.
O pai de Sílvio tinha muita dificuldade em sustentar família tão numerosa; por isso pôs os filhos para trabalhar desde cedo. Aos nove anos de idade Sílvio já trabalhava sempre em atividade ligadas a mecânica. Aos dezesseis anos chegou a se mudar para São Paulo onde frequentou as rodas boêmias e trabalhou como mecânico de automóveis.
Espírito inquieto, com um jeito de falar sempre rápido e vivo, Sílvio Caldas não se contentou com a vida artística. Foi boêmio, bebeu e fumou até o fim e sua longa vida foi dono de casas noturnas, era exímio cozinheiro, pescador e gostava de fazer viagens algo aventureiras
São Paulo acabaria sendo o lugar que Sílvio escolheu para passar os últimos anos de sua vida , passados em Atibaia onde tinha um sítio, passados em companhia de sua última mulher Míriam quase quarenta anos mais moça com a qual teve um casal de filhos.


Orestes Barbosa ( 1893- 1966)

Foi no café Nice, situado na Galeria Cruzeiro, na Avenida Rio Branco, centro nervoso do Rio que Sílvio conheceu o poeta popular, letrista e jornalista Orestes Barbosa que o aceitou como parceiro e compôs com ele 14 serestas de matar a mais famosa a célebre “Chão de Estrelas “
Tão célebre que ao ser consultado sobre qual era a o verso mais bonito da língua portuguesa o poeta Manuel Bandeira não hesitou em apontar “ Tu pisavas no astros distraída” verso de “Chão de Estrelas” como o verso mais bonito da língua portuguesa.
A letra é a seguinte :

Chão de Estrelas ( Sílvio Caldas- Orestes Barbosa)

Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão lá no Morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje,
Quando o sol
A claridade
Cobre meu barracão
Sinto saudade
Da mulher pomba que voou
Nossas roupas comuns
Dependuradas
Na corda
Qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nosso trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco
Era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas
Nosso chão...
E tu
Tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha,o luar e o violão...


Opiniões Polêmicas

Sílvio Caldas chegou a ter um programa na TV Globo nos anos 70 chamado “ Sílvio Caldas Especial” no qual se apresentou ao lado de artistas como Elizeth Cardoso e Roberto Carlos e num espírito bem didático recebia colegas de sua geração tais como Dorival Caymmi, Carlos Galhardo e Almirante para conversar, cantar e lembrar do passado mas com um intuito didático de apesentar a musica dos “ professores” - os grandes mestres da musica popular brasileira- para as gerações mais novas. A abordagem no programa sobre este assunto nunca era em tom saudosista. E os grandes mestres da música popular brasileira eram o “ Professor Noel Rosa “ O Professor Lamartine Babo”... entre outros como Sílvio fazia questão de frisar.. Não eram somente artistas, eram “ professores “
E tinha opiniões fortemente conservadoras como esta que emitiu sobre a bossa nova no início da década de 60.
-É uma manifestação passageira própria dos moços que retratam o espírito de decadência e má educação da época atual. Vai passar porque carece da categoria que somente a autenticidade confere as coisas.

O Cantor que sempre de despede

Sílvio Caldas teve vários apelidos artísticos. Um dele foi o de o Cantor que Sempre de Despede pois sempre anunciava uma despedida de carreira que nunca era cumprida de fato. Por isso sempre que alguém anunciava que ia embora de uma festa e acabava não indo ganhava o apelido de Sílvio Caldas
Também recebeu os apelidos de Titio ( quando os cabelo brancos e o ar professoral passaram a dominar sua fisionomia) “ Caboclinho querido ( epíteto criado pelo radialista César de Alencar inspirado no pássaro- cantor nordestino e na cor da pele do cantor.) e a A Voz Morena da Cidade.

Sílvio Caldas faleceu em Atibaia, São Paulo no dia 3 de fevereiro de 1998.

Para ver a interpretação de “ Chão de Estrelas” na voz do próprio Sílvio Caldas

Silvio Caldas