Sílvio Caldas
Deusa da Minha Rua ( Jorge Faraj - Newton Teixeira)
A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
È uma cascata de luz
Na rua uma poça d'água
Espelho de minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
A minh'alma comovida
E o meu pobre coração
Espelho da minha mágoa
Meus olhos são poças d'água
Sonhando com seu olhar
Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu , ela é nobre
Não vale a pena sonhar
Vida
Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas nasceu no Rio de
Janeiro no dia 23 de maio de 1908 no bairro de São Cristóvão, o
antigo bairro imperial do Rio . Era filho de Antônio Caldas, que
tinha uma pequena fabrica de instrumentos era afinador de piano e
compositor eventual. Sílvio cresceu em uma família intensamente
musical, tendo quinze irmãos. Toda a a família era musical
participavam de um bloco de Carnaval o que botou Sílvio na folia
desde cedo. O bloco se chamava Família Ideal. As mulheres da família
de Sílvio cantavam em festa de igreja os rapazes em festas mundanas.
Murilo Caldas, irmão de Sílvio também chegou a ser cantor
profissional nos anos 1930.
A já falada musicalidade da família de Sílvio levou-o a cantar
muito cedo. A história conta que sua primeira apresentação foi aos
cinco anos de idade no velho Teatro Fênix, no Centro do Rio.
O pai de Sílvio tinha muita dificuldade em sustentar família tão
numerosa; por isso pôs os filhos para trabalhar desde cedo. Aos nove
anos de idade Sílvio já trabalhava sempre em atividade ligadas a
mecânica. Aos dezesseis anos chegou a se mudar para São Paulo onde
frequentou as rodas boêmias e trabalhou como mecânico de
automóveis.
Espírito inquieto, com um jeito de falar sempre rápido e vivo,
Sílvio Caldas não se contentou com a vida artística. Foi boêmio,
bebeu e fumou até o fim e sua longa vida foi dono de casas noturnas,
era exímio cozinheiro, pescador e gostava de fazer viagens algo
aventureiras
São Paulo acabaria sendo o lugar que Sílvio escolheu para passar os
últimos anos de sua vida , passados em Atibaia onde tinha um sítio,
passados em companhia de sua última mulher Míriam quase quarenta
anos mais moça com a qual teve um casal de filhos.
Orestes Barbosa ( 1893- 1966)
Foi no café Nice, situado na Galeria Cruzeiro, na Avenida Rio
Branco, centro nervoso do Rio que Sílvio conheceu o poeta popular,
letrista e jornalista Orestes Barbosa que o aceitou como parceiro e
compôs com ele 14 serestas de matar a mais famosa a célebre “Chão
de Estrelas “
Tão célebre que ao ser consultado sobre qual era a o verso mais
bonito da língua portuguesa o poeta Manuel Bandeira não hesitou em
apontar “ Tu pisavas no astros distraída” verso de “Chão de
Estrelas” como o verso mais bonito da língua portuguesa.
A letra é a seguinte :
Chão de Estrelas ( Sílvio Caldas- Orestes Barbosa)
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão lá no Morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje,
Quando o sol
A claridade
Cobre meu barracão
Sinto saudade
Da mulher pomba que voou
Nossas roupas comuns
Dependuradas
Na corda
Qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nosso trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco
Era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas
Nosso chão...
E tu
Tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha,o luar e o violão...
Opiniões Polêmicas
Sílvio Caldas chegou a ter um programa na TV Globo nos anos 70
chamado “ Sílvio Caldas Especial” no qual se apresentou ao lado
de artistas como Elizeth Cardoso e Roberto Carlos e num espírito bem
didático recebia colegas de sua geração tais como Dorival Caymmi,
Carlos Galhardo e Almirante para conversar, cantar e lembrar do
passado mas com um intuito didático de apesentar a musica dos “
professores” - os grandes mestres da musica popular brasileira-
para as gerações mais novas. A abordagem no programa sobre este
assunto nunca era em tom saudosista. E os grandes mestres da música
popular brasileira eram o “ Professor Noel Rosa “ O Professor
Lamartine Babo”... entre outros como Sílvio fazia questão de
frisar.. Não eram somente artistas, eram “ professores “
E tinha opiniões fortemente conservadoras como esta que emitiu sobre
a bossa nova no início da década de 60.
-É uma manifestação passageira própria dos moços que retratam o
espírito de decadência e má educação da época atual. Vai passar
porque carece da categoria que somente a autenticidade confere as
coisas.
O Cantor que sempre de despede
Sílvio Caldas teve vários apelidos artísticos. Um dele foi o de o
Cantor que Sempre de Despede pois sempre anunciava uma despedida de
carreira que nunca era cumprida de fato. Por isso sempre que alguém
anunciava que ia embora de uma festa e acabava não indo ganhava o
apelido de Sílvio Caldas
Também recebeu os apelidos de Titio ( quando os cabelo brancos e o
ar professoral passaram a dominar sua fisionomia) “ Caboclinho
querido ( epíteto criado pelo radialista César de Alencar inspirado
no pássaro- cantor nordestino e na cor da pele do cantor.) e a A Voz
Morena da Cidade.
Sílvio Caldas faleceu em Atibaia, São Paulo no dia 3 de fevereiro
de 1998.
Para ver a interpretação de “ Chão de Estrelas” na voz do
próprio Sílvio Caldas
Silvio Caldas