Os Cariocas
Tim tim por tim tim ( Geraldo Jacques- Haroldo Barbosa)
Você tem que dar, tem que dar
O que prometeu meu bem
Mande o meu anel de volta
Eu lhe mando o seu também
Mande a carta em que eu dizia
O amor não tem fim
Que eu lhe mando outra explicando
Tim-tim por Tim- tim
Você tem que devolver
O que era meu, meu bem
Mande seu retrato e ponha outro em seu lugar
Morreu um rei, salve o rei que vai chegar
Não sei sofrer, não sei chorar
Eu sei me conformar
História
O conjunto vocal mais antigo do mundo em atividade formado em 1942 e
profissionais desde 1946 constituído em sua origem pelo líder
Ismael Neto, Severino Filho, Badeco (Emanoel Furtado), Quartera (
Jorge Quartaroni) e Waldir Viviani surgiu por iniciativa do paraense
Ismael Neto que sonhava com um conjunto vocal que fosse além da mera
diversão de vizinhos ou de adolescentes para apresentar-se em
programas de auditório e virar um formação profissional. Ismael
sonhava com um som que fosse transposto para cinco vozes em vez de
normalmente a três vozes que compunham os conjuntos vocais
brasileiros.
Para isso, no sótão da casa da vila em que morava com seus pais na
Tijuca, Ismael juntou-se ao seu irmão Severino Filho de 14 anos e
três vizinhos; Ari, Salvador e Tarquínio. Ao escolher um nome para
o conjunto descartou os nomes que habitualmente batizavam os
conjuntos vocais brasileiros- a ideia fixa era a Lua- e escolheu os
Cariocas., embora nem ele nem Severino fossem nascidos no Rio; eram
de Belém do Pará.
Quanto a Ari, Salvador e Tarquínio seus primeiros companheiros de
jornada foram substituídos por outros meninos da vizinhança e estes
por sua vez por ainda outros, á medida que o conjunto começou a se
apresentar em festinhas de bairro. Em 1945, com uma formação
improvisada,os Cariocas se apresentaram no programa de calouros Papel
Carbono de Renato Murce na Rádio Clube e pegaram o segundo lugar –
perderam o primeiro prêmio para um garoto assobiador. Mas Murce
gosto do que viu e recomendou que o grupo se inscrevesse para uma
próxima vez. Na segunda vez, os Cariocas tiraram o primeiro lugar (
cantando Rum and Coca-Cola sucesso das Andrew Sisters) e tornaram-se
atrações frequentes do programa.
Outros pais talvez vissem naquilo uma ameaça de profissionalização
e um obstáculo a que os rapazes continuassem se dedicando aos
estudos. Mas o talento de Ismael e de Severino era tão visível que
em fevereiro de 1946, Severino Silva, pai deles conseguiu um teste
para o conjunto na Rádio Nacional. A banca examinadora era formada
só por gente graúda na música popular brasileira, o maestro
Radamés Gnattali. o produtor e letrista Haroldo Barbosa e o
radialista e pesquisador Paulo Tapajós. Foi feito o teste e Os
Cariocas não vacilaram. No dia seguinte veio o convite para se
integrarem ao elenco do principal musical da emissora, Um Milhão de
Melodias, patrocinado pela Coca-Cola, com orquestra regida por
Radamés.
A Morte de Ismael
Ismael Neto tinha uma afinidade especial com a música. Seu gênio
para a harmonização das vozes tornou-o admirado por homens tais
como Radamés Gnatalli, Lyrio Panicalli e o compositor erudito Heitor
Villa Lobos.
O que se destacava neste líder era a disciplina que ele impunha a
seu conjunto embora pessoalmente ele fosse o indisciplinado modelo.
Boêmio era um eufemismo muito simples para definir Ismael.
Seu porte físico que lembrava um herói de quadrinhos popular na
época podia explicar sua resistência.. Em fins de 1955, Ismael saiu
direto de uma hepatite mal curada para os chopes com genebra no Bar
da Zica indiferente ao fato que tinha um grave problema de fígado.
Mas não foi fígado que o matou. No começo do ano seguinte foi
atacado por uma pneumonia e já entrou em pré-coma no hospital
morrendo em meia hora. Ismael era diabético e não sabia. Tinha 31
anos.
Seu irmão Severino Filho assumiu com naturalidade o papel de líder
do conjunto.
A Bossa Nova
Nada mais natural que a aproximação entre a bossa nova e os
Cariocas. Depois de terem participado de uma gravação de “ Chega
de Saudade “ com a cantora Elizeth Cardoso e acompanhados por
ninguém menos que João Gilberto, o conjunto reaproximou-se de Tom
Jobim e Billy Branco de cuja Sinfonia do Rio de Janeiro tinham
participado e do compositor Carlos Lyra que também tivera uma música
gravada por eles dois anos antes na Continental: Criticando.
A aproximação deu-se com os demais representantes da bossa nova por
intermédio de Ronaldo Bôscoli e Lúcio Alves. Foi quando- ao lado
de Lúcio, Sylvinha Telles, Aalyde Costa e outros, no dia 2 de
dezembro de 1959, Os Cariocas participaram do show de bossa nova
transmitido ao vivo do auditório da Radio Globo, na rua Irineu
Marinho. Era a primeira vez que a bossa nova entrava no ar para
milhares. Já reduzidos aos quatro elementos que passariam ser sua
formação definitiva eles cantaram “ Chega de Saudade” e de
Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini “Menina Feia” com sua vozes
mais afiadas do que nunca. Os Cariocas estavam fechando o ciclo que
tinham começado 11 anos antes em 1948 com ' Adeus América”. A
bossa nova era a música que eles e todo os conjuntos vocais
brasileiros do passado haviam sonhado desde o começo.
A Morte de Luiz Roberto
Em 1967, decepcionados com o rumo que a música popular brasileira
estava tomando principalmente nos festivais de música os Cariocas
resolveram interromper suas atividades.
Voltaram a se apresentar profissionalmente no dia 20 de outubro de
1988 no palco do Jazzmania.
Os Cariocas adentraram o palco do Jazzmania sob uma torrente de
aplausos e nem deixaram a plateia respirar. Atacaram de “Samba do
Avião” de Tom Jobim. A plateia que estava vendo eles estava em
êxtase.
Veio o intervalo e na volta retomaram o repertorio de seus clássicos
mais antigos dos anos 40 e 50 sem a qual a bossa nova provavelmente
não teria existido: “ Adeus América” Tim-tim por tim- tim de
Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa. “ Nova Ilusão” de Zé Menezes
e Luiz Bittencourt e Canção da Volta do próprio fundador dos
Cariocas Ismael Neto e Antônio Maria. E dando um salto de décadas
começaram a cantar “ Tema para Lúcia” a homenagem do líder
Severino a sua filha, a atriz Lúcia Veríssimo feita quando ela
tinha doze anos. Lúcia sentada na primeira fila fora a responsável
pela sonorização e iluminação do espetáculo. Foi então que Luiz
Roberto na verdade o solista do conjunto interrompeu o número suando
muito e pediu mais um intervalo.
Severino e seus colegas se entreolharam. Luiz Roberto foi aplaudido
ao caminhar em direção á passagem que levava ao camarim., seguido
pelos outros. Badeco fez menção de ampará-lo mas Luiz Roberto não
permitiu.
Um médico não por acaso na plateia chegou aos bastidores em menos
de um minuto: O Dr. Paulo Sérgio Oliveira cardiologista do cantor.
Assim que ouvira o pedido de intervalo, compreendera imediatamente a
situação e rumara para trás da cozinha onde ficava o camarim.
Aliás não tinha ido ao Jazzmania não apenas pela música mas para
estar a postos no caso de uma emergência. Encontrou uma ambiente de
choro e desespero: Luiz Roberto inconsciente, estendido num sofá com
um quadro agudo de infarte e praticamente morto. Pelos minutos
seguintes,o cardiologista aplicou-lhe massagem cardíaca e respiração
boca a boca. Não havia outros recursos, nem tempo para uma
ambulância, uma remoção ou pronto socorro. Em instantes, Luiz
Roberto estava morto.
Os colegas de conjunto sabiam que os problemas circulatórios de Luiz
Roberto vinham de muito tempo. A tensão de voltar a cantar com os
Cariocas pode ter interferido mas nem tanto- afinal há mais de um
ano se preparavam para aquela noite, repassando incansavelmente os
arranjos no apartamento de Severino, na rua Cupertino Durão, no
Leblon e fazendo as cordas vocais recuperarem a antiga forma. Um mês
antes já haviam feito algumas apresentações experimentais e tudo
dera certo. E mesmo naquele dia tinham passado o som ensaiando de
duas das tarde até oito da noite no Jazzmania. Depois cada qual
tinha ido para sua casa para tomar um banho e relaxar antes de voltar
para o espetáculo. Luiz Roberto que morava em Jacarepaguá fizera
tudo isso sem alteração. Mas no caminho da boate tinha acontecido
um incidente.
No entrocamento da rua Gomes Carneiro onde ficava o Jazzmania com a
rua Visconde de Pirajá em Ipanema, um carro em sentido contrário
quase se chocara com seu fusca. Com Luiz Roberto estavam mulher e
filho. Ele se desviara mas por pouco não tinham sido atingidos e
morrido ali mesmo. Luis Roberto era cardíaco e safenado e aquilo não
era a melhor coisa que podia ter acontecido perto de um evento que
iria comovê-lo.
O público seguia inocente do que estava passando ali dentro. A
suspeita só começou quando alguém saindo dos bastidores
confidenciou para um amigo que um dos Cariocas estava passando muito
mal. Dali a pouco Michel Domingos, divulgador do Jazzmania subiu ao
palco e muito emocionado explicou que os Cariocas não iriam mais
voltar. No camarim, Badeco era o que estava mais inconsolável.
A informação logo se espalhou para fora da boate e pelas outras
casas noturnas da cidade.
Luiz Roberto entrara no conjunto aos vinte e dois anos descoberto por
Severino que o vira tocando guitarra e cantando na própria orquestra
que dirigia paralelamente aos Cariocas. Luiz Roberto adaptara-se a o
contrabaixo, herdara os solos vocais num belo estilo seresteiro em
contraste com a dicção cortante dos demais e assim formados os
Cariocas abraçaram definitivamente a bossa nova.
Oura vez a bossa nova
Pelos cinco seguintes até 1967, o conjunto gravou seis Lps da
Phillips a gravadora que graças aos produtor Armando Pitganarri
melhor entendeu o conjunto e o deixou trabalhar. A bossa nova
correspondeu e presenteou os Cariocas com quase vinte canções
inéditas para serem inauguradas e transformadas em clássicos por
eles. Entre as canções, “ Ela é Carioca” de Tom Jobim e
Vinícius de Moraes ( composta a pedido deles), “ Inútil Paisagem
“ de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira , “Também quem mandou” de
Carlos Lyra e Vinícius de Moraes e “ Domingo Azul” de Billy
Blanco.
A Nova Formação.
Com sua nova formação devido a saída de Badeco e Quartera por
razões particulares os Cariocas passaram se apresentar
constantemente.
A nova formação dos Cariocas é : Severino Filho 80 anos piano e 1
voz. Eloi Vicente, 60 anos violão e 4 voz e solos, Neil Carlos
Teixeira 39 contrabaixo e 3 voz e Hernan Castro 37 bateria e 2 voz.
Severino Filho, o único remanescente da formação original, faleceu
no dia 1 de março de 2016.
Ela é Carioca ( Antônio Carlos Jobim- Vinícius de Moraes)
Ela é carioca
Ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho
assim para dar
Eu vejo na cor de seus olhos
As noite do Rio ao luar
Vejo a mesma luz, vejo o mesmo céu
Vejo o mesmo mar
Ela é meu amor, só me vê a mim
A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar
A paz que sonhei
Só sei que sou louco por ela
E para mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca