Jackson
do Pandeiro
Vida
O
compositor paraibano Jackson do Pandeiro cujo nome verdadeiro era
José Gomes Filho nasceu no Engenho Tanques, município de Alagoa
Grande no dia 31 de agosto de 1919. Era filho do oleiro José Gomes
com a cantora de cocos ( um ritmo nordestino) Flora Mourão.
Alagoa
Grande conhecida como Rainha do Brejo ganhava ares de metrópole
pelos benefícios gerados pela economia e e pela estrada de ferro que
além de transportar os produtos para o comércio cada vez mais
variado e rico trazia informação e trabalhadores para a a
agroindústria. Com eles, andarilhos em busca de oportunidades e
cantadores, boêmios, repentistas, violeiros e emboladores de coco.
Dona
Flora, apoiada pelo marido ajudava a pagar as contas cantando em
casamentos, batizados e festas de todos os tipos acompanhada por um
músico chamado João Feitosa. Longe de pensar em carreira artística,
o menino preferia ficar com a criançada na Lagoa do Paó ouvindo o
coaxar dos sapos que um dia serviria de inspiração para um de seus
maiores sucessos “Cantiga do Sapo”.
O
menino não perdia as rodas de coco que a mãe fazia em casa para
aperfeiçoar o repertório. E aos poucos ia aprendendo as letras,os
ritmos e as batidas.
Aos
sete anos, o menino tomou coragem e durante uma tarde de ausência de
Feitosa assumiu o bumbo, assumindo o instrumento com competência.
Três anos depois já era o acompanhante oficial da mãe. Apesar do
longo caminho até o local das festas exercia a função como uma das
brincadeiras com os amigos. Entre elas a preferida era imitar os
heróis e bandidos do cinema mudo, principalmente os de faroeste em
especial um ator norte- americano de filme de faroeste chamado Jack
Perrin um sujeito magro e canastrão que o menino imitava com a
perfeição possível da idade.
Mudança
O
patriarca da família de Jackson acabou mudando para Campina Grande,
deixando o engenho e se estabelecendo na periferia desta cidade. A
mãe que até então contava com os filhos Zé e Severina ficou
grávida pela terceira vez. Abandonou o coco para gerar e cuidar do
filho João ( Tinda) e Zé Jack começava a trabalhar com o pai na
olaria. Mas durou pouco o trabalho com o pai. Em alguns meses o
patriarca morria de causas não reveladas e a família se decide
mudar para Campina Grande para morar com os filhos da irmã , Maria
Jacinta, já falecida e o cunhado Manuel Galdino.
Acabrunhada
com a morte do marido, Dona Flora parou de sustentar a a família com
seu canto, deixando para o filho mais velho a responsabilidade de de
levar os dinheiros das despesas para a casa. Zé Jack passou a
trabalhar como ajudante de padeiro , junto com os primos.
Passaram
a morar numa região conhecida como Açude Velho.
Início
da vida Profissional
Jackson
no início de sua vida só pensava em trabalhar, e evitar confusão.
Começou a frequentar os redutos boêmios levado principalmente pela
música. Aprendia música nas feiras. Tocava todo tipo de instrumento
de percussão , mas só assumiu o pandeiro depois que seu estilo
chamou a atenção do cego cantador Chico Bernardo que vendia cordéis
na Feira Grande e ficou impressionado pelo talento precoce do quase
garoto.
Jackson
começava a ser conhecido como músico. Apesar de atuar só em
saraus, serestas e mesas de bar chamava a atenção dos mais
experientes. Além da percussão, tocava os rudimentos da sanfona e
do piano enquanto exercia direito de tocar com profissionais nos
bares.
Precursores
das rádios comunitárias que por lei só podem atingir uma pequena
área de atuação, os serviços de alto- falante são ainda hoje
canais eficientes de comunicação em várias regiões do Nordeste.
Chamados de difusoras elas eram comuns em meados dos anos 30. Em
Campina Grande José Gomes Filho que já adotara do apelido artístico
de Jack do Pandeiro tocava em alguma destas difusoras. Em uma delas,
no bairro em que morava, Zé Pinheiro, ganhou uma oportunidade que
esperava havia um bom tempo sendo convidado para assumir o posto de
condutor de um pastoril ( festas misto de religiosas e profanas muito
comuns no Nordeste) no lugar do velho Caiçara que queria se
aposentar. E Zé Jack acabou entrando na nova profissão como o
palhaço Parafuso.
A
difusora A Voz de Campina Grande fazia um show de calouros no domingo
á noite. Foi ali que ele formou com o amigo Zé Lacerda a primeira
dupla Café com Leite para cantar sambas e marchas de Carnaval e
tocar pandeiro.
Depois
de abrir mão do ofício de padeiro, seu primeiro emprego oficial
veio no recém- inaugurado Cabaré Eldorado, a casa mais luxuosa de
Campina Grande no final dos anos 30. Ali ele aprendeu tocando em uma
orquestra de músicos muito experientes a tocar de tudo do choro ao
jazz, do maxixe a rumba, do tango ao blues. Completou a nova fase de
formação com o cinema falado. E cantado. Foi nas telas que viu o
chapéu do cantor e compositor Manezinho Araujo, que passou a adotar
como uma de suas marcas. E o samba cheio de breques e humor de Jorge
Veiga que abriu possibilidades para seu futuro como cantor. Chegou a
incluir músicas do repertório destes dois artistas em suas
apresentações enquanto construía repertório próprio.
Almira
Castilho
Cada
vez mais popular, Jackson sentia falta de cantar, no rádio, seus
cocos, rojões e batuques, mas guardava para o futuro que estava
próximo. Mais exatamente no final de janeiro de 1953 a um mês do
carnaval. A Rádio preparava a revista “ A Pisada é Essa” como
última grande atração antes do Carnaval e Jackson havia preparado
uma marcha para a a ocasião quando na última hora a emissora muda
de ideia e ordena-lhe que toque um ritmo nordestino. Jakson lança
mão do coco “ Sebastiana “ do amigo Rosil Cavalcante que começa
a ensaiar para depois do carnaval. Ele convida a vocalista Luiza de
Oliveira para acompanhante e se transforma na sensação da revista.
Para ilustrar a história da comadre que dança feito uma guariba
Luiza improvisa uma umbigada que após deixar Jackson momentaneamente
surpreso, provoca uma resposta que deixa a plateia feliz e eufórica.
A
dança diferente vira sucesso. Tanto que a rádio muda o nome da
revista para A , E , I, O , U, Ypsilone e Jackson vira a atração
principal da emissora.
A
Letra desta música festiva e deliciosa é a seguinte :
Sebastiana
( Rosil Cavalcante)
Convidei
a comadre Sebastiana
Para
cantar e xaxar na Paraíba
Ela
veio com uma dança diferente
E
pulava que só uma guariba
E
gritava: a e i o u ypislone ( bis)
Já
cansada no meio da brincadeira
E
dançando fora do compasso
Segurei
Sebastiana pelo braço
E
gritei, não faça sujeira
O
xaxado esquentou na gafieira
E
Sebastiana não deu mais fracasso
Mas
gritava: a e i o u ypsilone
Com
férias marcadas e exausta Luiza abandona suas atividades com Jackson
dando lugar a Almira Castilho que se tornaria a grande parceira de
Jackson na música e na vida.
A
dupla vira uma das atrações principais da rádio e Jakson sai da
orquestra Jazz Paraguary., posto inicial de contrato para assumir a
função da cantor assim como a de comediante. Era um recomeço na
carreira.
A
relação entre Almira e Jakson evolui para uma relação sentimental
e os dois acabam por se casar em outubro de 1964. Mas a relação se
deteriora e o desquite começa a virar fato jurídico em 1967.
O
último show aconteceu em Belo Horizonte. E o disco de encerramento
da dupla foi “ Braza do Norte” de 1967. A separação conjugal já
era fato, mas a profissional ainda não quando ele conhece, após uma
participação no show de Ary Lobo, em São Paulo a próxima e
derradeira mulher chamada Neuza Flores dos Anjos que era um fã do
artista e foi conhecer o ídolo num restaurante de hotel e terminou
apresentando Jackson ao pais e sendo imediatamente pedida em
casamento.
Viveram
felizes como um casa de cinema até janeiro de 1968 quando um
acidente de carro deixou o artista sem mover os braços por mais de
um ano. Neuza cuidou do marido até sua recuperação total. E acabou
entrando para a música, por insistência do marido, que lhe ensinou
a tocar agogô e e passou a formar com ela uma nova dupla.
O
Canto da Ema
No
final da década de 60, Jackson passa por novo renascimento artístico
graças ao movimento da Tropicália movimento cultural dos anos 60
encabeçado por Gilberto Gil e Caetano Veloso que passam a considerar
Jackson ídolo e ícone. Num lance de esperteza, simbolizando outra
volta por cima lança o disco “ Aqui eu tô” cuja foto de capa
faz menção aos Beatles do disco “ Abbey Road”.
E
quando em outro álbum lança “ O Canto da Ema” para o público
mais jovem.
O
Canto da Ema ( Alventino-Aires Viana- João do Vale)
A
ema gemeu
No
tronco do juremá (2X)
Foi
um sinal bem triste, morena
Fiquei
a imaginar
Será
que o nosso amor, morena
Que
vai se acabar ?
Você
bem sabe
Que
a ema quando canta
Vem
trazendo no seu canto
Um
bocado de azar
Eu
tenho medo
Pois
acho que é muito cedo
Muito
cedo , meu benzinho
Para
esse amor se acabar
Vem
morena ( vem, vem, vem )
Me
beijar ( me beijar)
Dá-me
um beijo (dá um beijo)
Pra
esse medo se acabar
Outras
Música de Jackson do Pandeiro( ou interpretadas por ele)
Forró
em Caruaru ( Zé Dantas)
Chiclete
Com Banana ( Gordurinha- Almira Castilho)
Um a
Um ( Edgar Ferreira)
Xote
de Copacabana ( José Gomes)
A
Mulher do Aníbal ( Genival Macedo- Nestor de Paula)
Cantiga
do Sapo ( Jackson do Pandeiro- Buco do Pandeiro)
Forró
em Limoeiro ( Edgar Ferreira)
Casaca de Couro ( Rui Moraes e Silva)
Falso
Toureiro ( José Gomes- Heleno Clemente)
Morte
Com
prestígio em alta, Jackson e sua banda embarcam para um excursão
pelo Nordeste que terminaria em Brasília. Em uma apresentação em
Santa Cruz do Capibaribe, perto de Recife no dia 23 de junho de 1982
passa mal durante o show mas retoma o microfone e tudo termina bem.
No dia seguinte faz um show normal em Caruaru mas volta a ter
tonturas. O diagnóstico é enfarte. E leva o conselho de interromper
a temporada para ir descansar.
Teimoso,
o artista insiste em continuar a temporada e no dia 3 de julho faz um
show entusiasmado numa associação de funcionários do Ministério
da Educação, De manhã, no aeroporto dormiu seu cochilo habitual
nessas ocasiões, enquanto esperava o vôo para o Rio, mas não
acordou normalmente. Foi acudido por um médico que revelou uma queda
na glicose que evoluiu para um coma. Foi internado, esteve em dois
hospitais e no dia 10 de julho de 1982. á a tarde, depois de passar
momentos acordados e falar com a mulher, Neuza, não resiste e morre.
No
resgate de sua memória um prova do descuido de um pais que não
valoriza a grandeza de seus artistas populares. Dos cento e cinquenta
pandeiros que ele tinha em seu acervo pessoal restou apenas um para
lembrar sua memória.
Jackson do Pandeiro
Jackson do Pandeiro
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