sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Carlos Lyra


Carlos Lyra

Canção que Morre no Ar ( Carlos Lyra- Ronaldo Boscoli)

Brinca no ar
Um resto de canção
Um rosto tão sereno
Tão quieto de paixão
Morre no ar
O sempre mesmo adeus
Meus olhos são teus olhos
Para nós, vem
Um mundo sempre amor
O pranto que desliza
No seio de uma flor
Terra-luz, anjo só
Mil carícias, você traz
Beijo manso, luz e paz

Canção que Morre no ar é uma música de autoria de Carlos Lyra com seu parceiro Ronaldo Boscoli.
O compositor da bossa nova Carlos Lyra cujo nome completo é Carlos Eduardo Lyra Barbosa nasceu no Rio de Janeiro no dia 11 de maio de 1936.
Dizer que a música brasileira feita antes da bossa nova era medíocre e cometer uma injustiça. Toda uma geração de intérpretes e músicos que trabalhavam nas boates do Rio de Janeiro no anos 50 contribuíram para criar o fermento que iria desembocar na bossa nova. E tocando o grande repertório popular internacional contribuíram para que a bossa nova tivesse elementos da canção francesa, dos ritmos cubanos e do bolero.
Estes artistas eram os cantores Dick Farney, Lucio Alves, Tito Madi, Doris Monteiro, Dolores Duran, Sylvia Telles, Claudette Soares e conjuntos vocais como Os Cariocas e Quatro Ases e Um Coringa. Eram intérpretes como os violonistas Garoto, Luiz Bonfá, e Baden Powwel, pianistas como Johnny Alf, Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça, os saxofonistas Zé Bodega, Cipó k- Ximbinho, o acordeonista Joáo Donato.
O próprio Carlos Lyra era fã de Charles Trenet e Lucho Gatica.
Carlos Lyra antes de terminar o secundário já conhecera o privilégio de ter uma música chamada “ Menina” gravada em meados de 1956 pela também quase estreante Sylvia Telles.
Outro grande amigo foi Roberto Menescal que aluno do último ano do curso científico no colégio Melllo e Souza mudou-se pra o colégio Mallet Soares ao saber que Carlos Lyra estudava neste colégio. Os dois se entenderam bem, trocaram várias posições de violão que conheciam e Lyra estimulou Menescal a aprender a solar a desenvolver um estilo próprio. Em pouco tempo os dois resolveram abrir uma academia de violão para ganhar um pouco de dinheiro e se livrarem da pesada dependência que ainda tinham das famílias. A escola se instalou num apartamento vazio de um amigo de Carlos Lyra na rua Sá Ferreira atraiu grande quantidade ade alunos.
O mais importante no entanto estava acontecendo em outro ponto de Copacabana mais precisamente na Avenida Atlântica quase esquina da Constante Ramos. Foi no apartamento de uma amiga de Roberto Menescal a futura intérprete de bossa nova Nara Leão onde a anfitriã promovia reuniões diárias de violão com Menescal e outros rapazes um deles também colega do Mallet o garoto Luis Carlos Vinhas que estudava piano. Lyra juntou-se a turma em pouco tempo e graças a Menescal agregou-se ao grupo um jornalista bem mais velho do que eles que tinha vinte e sete anos chamado Ronaldo Boscoli.
Mais velho e muito mais experiente Boscoli era repórter da revista Manchete e nessa condição conhecia quase todo mundo da política do futebol e da música popular e era considerado o único adulto do grupo. Ele era cunhado do poeta e compositor Vinícius de Moraes e amigo de Tom Jobim que todos ali admiravam.
O grupos de jovens sonhadores e com a iniciativa de criar uma nova música popular começou a se expandir da casa de Nara. Apareceram o amigo Chico Feitosa que por sua vez levou o flautista Bebeto Castilho. Logo apareceram o violonista Normando Santos, os três irmãos Castro Neves todos tocando vários instrumentos e algumas moças sem grandes ambições artísticas mas muito interessadas no que os rapazes faziam. As noitadas começavam por volta da as nove e não tinham hora para acabar. Cantava-se e tocava-se violão pela noite afora- música dos outros ou as suas próprias que eles já estavam começando a fazer.
O estilo de vida que levavam e suas preferências musicais seriam decisivos para o tipo de música que eles queriam fazer. Todos ali eram bonitos, atléticos, bronzeados, moradores de Copacabana e Ipanema com muitas idas a praia e vendiam saúde. Pelo fato de serem jovens não se identificavam com a a melancolia das músicas românticas que então se faziam nas boates. Embora admirassem muito os compositores antigos não gostavam das letras que estes mestres faziam segundo eles tristes demais. A culpa de tudo diziam era do samba-canção. A música norte- americana que todos admiravam -Frank Sinatra era o ídolo deles- também podia ser romântica sem ser pessimista.

Posições Políticas
Havia uma bossa nova de esquerda representada pela ala politicamente engajada da bossa nova representada por Carlos Lyra. Nara Leão e Sérgio Ricardo além de letristas e dramaturgos como Ruy Guerra e Gianfrancesco Guarnieri.
Carlos Lyra ajudou a fundar o CPC ( Centro Popular de Cultura)e foi diretor musical da Rádio Nacional ( afastado pelo golpe de 64), escreveu música para teatro infantil, adulto e “participante” musicou filmes do Cinema Novo.

Calor Lyra casou-se com a norte americana Kate Lyra.

Parceria Com Vinícius de Moraes

A parceria com Vinícius de Moraes rendeu canções como “ Minha Namorada”

Minha Namorada ( Carlos Lyra- Vinícius de Moraes)

Se você quer ser a minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente esta coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ter
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também não perder este jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada , mas amada para valer
Aquela amada de amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste para você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que sera estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

A parceria rendeu ainda “ Pode ir” , “Maria Moita”, “Você e Eu”,.” Coisa mais Linda”, “Mas Também quem Mandou”.

Carlos Lyra 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Marcos Valle


Marcos Vale

O compositor de bossa nova Marcos Valle cujo nome verdadeiro era Marcos Kosntenbader Valle nasceu no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1943. Marcos começou estudando música clássica mas acabou mudando completamente seu gosto musical acabando por aderir completamente a música popular. Quando se penetra nesse universo Marcos acabou se encantando com as harmonias das big bands americanas, das canções regionais de Dorival Caymmi e com cantores como Roy Hamilton, Nat King Cole, o paulista Almir Ribeiro, Maysa, Dolores Duran. Quando retornou ao piano já estava todo voltado para a música popular.
Marcos era amigo do futuro famoso compositor Edu Lobo e também de Dori Caymmi, filho de Dorival Caymmi. Como os três se interessavam bastante por música partiu a sugestão de os três se juntarem para fazer música. Marcos acatou a ideia e ele e os dois amigos passaram a se ver com frequência para tocar e compor. A bossa nova era a música dominante e com a qual eles se identificavam mas até para competir com os titulares- Tom Jobim, Carlos Lyra e Roberto Menescal- eles sentiam a necessidade de buscar um caminho próprio. A vida era mais simples naquele tempo e um ano depois, Marcos, Edu e Dori já se apresentavam em trio em programas de televisão como o de Sérgio Porto e do próprio Fernando Lobo pai de Edu.
Marcos tinha seu irmão chamado Paulo Sérgio Valle letrista com quem formaria uma dupla imbatível nos próximos anos. Foi seu irmão que encontrou as palavras certas para “ Samba de Verão” uma das músicas mais famosas de Marcos. O potencial instrumental de “ Samba de Verão” já se revelara pela suave gravação de Eumir Deodato com seu grupo Os Catedráticos a tal ponto que acharam que a música dispensava letra.
A letra é a seguinte :

Samba de Verão ( Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)

Você viu
Só que amor
Nunca vi coisa assim
E passou, nem parou
Mas olhou só para mim
Se voltar, vou atrás
Vou pedir, vou falar
Vou contar que o amor
Foi feitinho pra dar
Olha, é como o verão
Quente o coração
Salta de repente
Só para ver a menina que vem
Ela vem, sempre tem
Esse mar no olhar
E vai ver, tem que ser
Nunca tem de amar
Hoje sim, diz que sim
Já cansei de esperar
Nem parei nem dormi
Só pensando em me dar
Peço, mas você não vem
Deixo então, falo só
Digo ao céu, mas você
Vem

Se foi notado alguma semelhança com outra garota de doce balanço caminho do mar sabe que não houve engano. Se tais imagens da letra da música soam familiares não é coincidência: a personagem de “ Samba de Verão” parecia uma irmã caçula da menina que vinha e passava cheia de graça em Garota de Ipanema, talvez um pouco menos indiferente aos olhares dos mortais, mas tão consciente de sua condição de deusa quanto a outra. Ninguém se importou. Samba de Verão só esperaria pelo verão carioca para se tornar o hino daquela geração de surfistas.
A geração da bossa nova tinha se dividido em dois grupos por causa da situação política no país na década de 60. A grande representante da ala politizada da bossa nova era a cantora Nara Leão, militante de causas políticas só a partir de 1963. Por causa dela os irmãos Valle fizeram a contundente “ A Resposta “ uma referência direta a Nara Leão.


A Resposta (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)

Se alguém disser
Que teu samba
Não tem mais valor
Porque ele é feito
Somente de paz e de amor
Não ligue não
Que essa gente
Não sabe o que diz
Não pode entender
Quando um samba é feliz
O samba pode
Ser feito de céu e de mar
O samba bom
È aquele que o povo cantar
De fome basta
A que o povo na vida já tem
Pra que lhe fazer ?
Cantar isso também
Mas é que tempo
De ser diferente
E essa gente
Não quer mais saber
De amor
Falar de terra
Na areia do Arpoador
Quem pelo pobre
Na vida não fez um favor
Falar de morro
Morando de frente por mar
Não vai fazer ninguém melhorar

Mas a mostrar que estas posições viviam mudando a própria Nara Leão manifestaria o desejo de gravar “ A Resposta “. E os irmãos Valle fariam “ Viola Enluarada “ com o seu quê de trilha sonora da guerrilha rural, a ser cantada ao pé do fogo entre dois combates embora o grito de Liberdade só pudesse ser dado em surdina para não atrair a repressão. Nos palcos de televisão ou dos teatros, no entanto, o efeito era arrebatador.
“Viola Enluarada era uma toada, derivada da admiração de Marcos pelo novato Milton Nascimento, recordista da produção delas. O próprio Milton foi chamado por Marcos a gravar com ele a música, para grande impulso de sua carreira. A música marcou também um divisor de águas no estilo de Marcos, porque , pouco depois de fornecer violas para a guerrilha, ele passaria a experimentar toda variedade de gêneros. Foi um dos primeiros a usar instrumentação eletrônica ( em Próton, Eletrón, Neutron), a fazer jingles sofisticados ( “ Mustang Cor de Sangue “ ) e a compor trilhas de programas da TV Globo como Vila Sésamo e de novelas ( Pigmalião 70, Selva de Pedra, O Cafona, Os Ossos do Barão, no tempo em que elas eram composições originais, encomendadas a um compositor sozinho ou em dupla e não se reduziam a a um parada de sucessos fabricados.

Viola Enluarada (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra
Mata o mundo, fere a terra
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino
Louva a morte
Viola em noite enluarada
No sertão é como espada
Esperança de vingança
O mesmo que pé que dança um samba
Se preciso, vai á luta
Capoeira
Que tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira
Para defendê-la se levanta
E grita: Eu vou !
Mão, violão canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade
Porta bandeira, capoeira
Desfilando vão cantando
Liberdade !
Liberdade....
Liberdade, liberdade.
Liberdade..

Marcos Valle