quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Marcos Valle


Marcos Vale

O compositor de bossa nova Marcos Valle cujo nome verdadeiro era Marcos Kosntenbader Valle nasceu no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1943. Marcos começou estudando música clássica mas acabou mudando completamente seu gosto musical acabando por aderir completamente a música popular. Quando se penetra nesse universo Marcos acabou se encantando com as harmonias das big bands americanas, das canções regionais de Dorival Caymmi e com cantores como Roy Hamilton, Nat King Cole, o paulista Almir Ribeiro, Maysa, Dolores Duran. Quando retornou ao piano já estava todo voltado para a música popular.
Marcos era amigo do futuro famoso compositor Edu Lobo e também de Dori Caymmi, filho de Dorival Caymmi. Como os três se interessavam bastante por música partiu a sugestão de os três se juntarem para fazer música. Marcos acatou a ideia e ele e os dois amigos passaram a se ver com frequência para tocar e compor. A bossa nova era a música dominante e com a qual eles se identificavam mas até para competir com os titulares- Tom Jobim, Carlos Lyra e Roberto Menescal- eles sentiam a necessidade de buscar um caminho próprio. A vida era mais simples naquele tempo e um ano depois, Marcos, Edu e Dori já se apresentavam em trio em programas de televisão como o de Sérgio Porto e do próprio Fernando Lobo pai de Edu.
Marcos tinha seu irmão chamado Paulo Sérgio Valle letrista com quem formaria uma dupla imbatível nos próximos anos. Foi seu irmão que encontrou as palavras certas para “ Samba de Verão” uma das músicas mais famosas de Marcos. O potencial instrumental de “ Samba de Verão” já se revelara pela suave gravação de Eumir Deodato com seu grupo Os Catedráticos a tal ponto que acharam que a música dispensava letra.
A letra é a seguinte :

Samba de Verão ( Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)

Você viu
Só que amor
Nunca vi coisa assim
E passou, nem parou
Mas olhou só para mim
Se voltar, vou atrás
Vou pedir, vou falar
Vou contar que o amor
Foi feitinho pra dar
Olha, é como o verão
Quente o coração
Salta de repente
Só para ver a menina que vem
Ela vem, sempre tem
Esse mar no olhar
E vai ver, tem que ser
Nunca tem de amar
Hoje sim, diz que sim
Já cansei de esperar
Nem parei nem dormi
Só pensando em me dar
Peço, mas você não vem
Deixo então, falo só
Digo ao céu, mas você
Vem

Se foi notado alguma semelhança com outra garota de doce balanço caminho do mar sabe que não houve engano. Se tais imagens da letra da música soam familiares não é coincidência: a personagem de “ Samba de Verão” parecia uma irmã caçula da menina que vinha e passava cheia de graça em Garota de Ipanema, talvez um pouco menos indiferente aos olhares dos mortais, mas tão consciente de sua condição de deusa quanto a outra. Ninguém se importou. Samba de Verão só esperaria pelo verão carioca para se tornar o hino daquela geração de surfistas.
A geração da bossa nova tinha se dividido em dois grupos por causa da situação política no país na década de 60. A grande representante da ala politizada da bossa nova era a cantora Nara Leão, militante de causas políticas só a partir de 1963. Por causa dela os irmãos Valle fizeram a contundente “ A Resposta “ uma referência direta a Nara Leão.


A Resposta (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)

Se alguém disser
Que teu samba
Não tem mais valor
Porque ele é feito
Somente de paz e de amor
Não ligue não
Que essa gente
Não sabe o que diz
Não pode entender
Quando um samba é feliz
O samba pode
Ser feito de céu e de mar
O samba bom
È aquele que o povo cantar
De fome basta
A que o povo na vida já tem
Pra que lhe fazer ?
Cantar isso também
Mas é que tempo
De ser diferente
E essa gente
Não quer mais saber
De amor
Falar de terra
Na areia do Arpoador
Quem pelo pobre
Na vida não fez um favor
Falar de morro
Morando de frente por mar
Não vai fazer ninguém melhorar

Mas a mostrar que estas posições viviam mudando a própria Nara Leão manifestaria o desejo de gravar “ A Resposta “. E os irmãos Valle fariam “ Viola Enluarada “ com o seu quê de trilha sonora da guerrilha rural, a ser cantada ao pé do fogo entre dois combates embora o grito de Liberdade só pudesse ser dado em surdina para não atrair a repressão. Nos palcos de televisão ou dos teatros, no entanto, o efeito era arrebatador.
“Viola Enluarada era uma toada, derivada da admiração de Marcos pelo novato Milton Nascimento, recordista da produção delas. O próprio Milton foi chamado por Marcos a gravar com ele a música, para grande impulso de sua carreira. A música marcou também um divisor de águas no estilo de Marcos, porque , pouco depois de fornecer violas para a guerrilha, ele passaria a experimentar toda variedade de gêneros. Foi um dos primeiros a usar instrumentação eletrônica ( em Próton, Eletrón, Neutron), a fazer jingles sofisticados ( “ Mustang Cor de Sangue “ ) e a compor trilhas de programas da TV Globo como Vila Sésamo e de novelas ( Pigmalião 70, Selva de Pedra, O Cafona, Os Ossos do Barão, no tempo em que elas eram composições originais, encomendadas a um compositor sozinho ou em dupla e não se reduziam a a um parada de sucessos fabricados.

Viola Enluarada (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)

A mão que toca um violão
Se for preciso faz a guerra
Mata o mundo, fere a terra
A voz que canta uma canção
Se for preciso canta um hino
Louva a morte
Viola em noite enluarada
No sertão é como espada
Esperança de vingança
O mesmo que pé que dança um samba
Se preciso, vai á luta
Capoeira
Que tem de noite a companheira
Sabe que a paz é passageira
Para defendê-la se levanta
E grita: Eu vou !
Mão, violão canção e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade
Porta bandeira, capoeira
Desfilando vão cantando
Liberdade !
Liberdade....
Liberdade, liberdade.
Liberdade..

Marcos Valle