Marcos Vale
O compositor de
bossa nova Marcos Valle cujo nome verdadeiro era Marcos Kosntenbader
Valle nasceu no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1943. Marcos
começou estudando música clássica mas acabou mudando completamente
seu gosto musical acabando por aderir completamente a música
popular. Quando se penetra nesse universo Marcos acabou se
encantando com as harmonias das big bands americanas, das canções
regionais de Dorival Caymmi e com cantores como Roy Hamilton, Nat
King Cole, o paulista Almir Ribeiro, Maysa, Dolores Duran. Quando
retornou ao piano já estava todo voltado para a música popular.
Marcos era amigo do
futuro famoso compositor Edu Lobo e também de Dori Caymmi, filho de
Dorival Caymmi. Como os três se interessavam bastante por música
partiu a sugestão de os três se juntarem para fazer música. Marcos
acatou a ideia e ele e os dois amigos passaram a se ver com
frequência para tocar e compor. A bossa nova era a música dominante
e com a qual eles se identificavam mas até para competir com os
titulares- Tom Jobim, Carlos Lyra e Roberto Menescal- eles sentiam a
necessidade de buscar um caminho próprio. A vida era mais simples
naquele tempo e um ano depois, Marcos, Edu e Dori já se
apresentavam em trio em programas de televisão como o de Sérgio
Porto e do próprio Fernando Lobo pai de Edu.
Marcos tinha seu
irmão chamado Paulo Sérgio Valle letrista com quem formaria uma
dupla imbatível nos próximos anos. Foi seu irmão que encontrou as
palavras certas para “ Samba de Verão” uma das músicas mais
famosas de Marcos. O potencial instrumental de “ Samba de Verão”
já se revelara pela suave gravação de Eumir Deodato com seu grupo
Os Catedráticos a tal ponto que acharam que a música dispensava
letra.
A letra é a
seguinte :
Samba de Verão (
Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)
Você viu
Só que amor
Nunca vi coisa assim
E passou, nem parou
Mas olhou só para
mim
Se voltar, vou atrás
Vou pedir, vou falar
Vou contar que o
amor
Foi feitinho pra dar
Olha, é como o
verão
Quente o coração
Salta de repente
Só para ver a
menina que vem
Ela vem, sempre tem
Esse mar no olhar
E vai ver, tem que
ser
Nunca tem de amar
Hoje sim, diz que
sim
Já cansei de
esperar
Nem parei nem dormi
Só pensando em me
dar
Peço, mas você não
vem
Deixo então, falo
só
Digo ao céu, mas
você
Vem
Se foi notado alguma
semelhança com outra garota de doce balanço caminho do mar sabe que
não houve engano. Se tais imagens da letra da música soam
familiares não é coincidência: a personagem de “ Samba de
Verão” parecia uma irmã caçula da menina que vinha e passava
cheia de graça em Garota de Ipanema, talvez um pouco menos
indiferente aos olhares dos mortais, mas tão consciente de sua
condição de deusa quanto a outra. Ninguém se importou. Samba de
Verão só esperaria pelo verão carioca para se tornar o hino
daquela geração de surfistas.
A geração da bossa
nova tinha se dividido em dois grupos por causa da situação
política no país na década de 60. A grande representante da ala
politizada da bossa nova era a cantora Nara Leão, militante de
causas políticas só a partir de 1963. Por causa dela os irmãos
Valle fizeram a contundente “ A Resposta “ uma referência direta
a Nara Leão.
A Resposta (Marcos
Valle/ Paulo Sérgio Valle)
Se alguém disser
Que teu samba
Não tem mais valor
Porque ele é feito
Somente de paz e de
amor
Não ligue não
Que essa gente
Não sabe o que diz
Não pode entender
Quando um samba é
feliz
O samba pode
Ser feito de céu e
de mar
O samba bom
È aquele que o povo
cantar
De fome basta
A que o povo na
vida já tem
Pra que lhe fazer ?
Cantar isso também
Mas é que tempo
De ser diferente
E essa gente
Não quer mais saber
De amor
Falar de terra
Na areia do Arpoador
Quem pelo pobre
Na vida não fez um
favor
Falar de morro
Morando de frente
por mar
Não vai fazer
ninguém melhorar
Mas a mostrar que
estas posições viviam mudando a própria Nara Leão manifestaria o
desejo de gravar “ A Resposta “. E os irmãos Valle fariam “
Viola Enluarada “ com o seu quê de trilha sonora da guerrilha
rural, a ser cantada ao pé do fogo entre dois combates embora o
grito de Liberdade só pudesse ser dado em surdina para não atrair a
repressão. Nos palcos de televisão ou dos teatros, no entanto, o
efeito era arrebatador.
“Viola Enluarada
era uma toada, derivada da admiração de Marcos pelo novato Milton
Nascimento, recordista da produção delas. O próprio Milton foi
chamado por Marcos a gravar com ele a música, para grande impulso de
sua carreira. A música marcou também um divisor de águas no
estilo de Marcos, porque , pouco depois de fornecer violas para a
guerrilha, ele passaria a experimentar toda variedade de gêneros.
Foi um dos primeiros a usar instrumentação eletrônica ( em Próton,
Eletrón, Neutron), a fazer jingles sofisticados ( “ Mustang Cor de
Sangue “ ) e a compor trilhas de programas da TV Globo como Vila
Sésamo e de novelas ( Pigmalião 70, Selva de Pedra, O Cafona, Os
Ossos do Barão, no tempo em que elas eram composições originais,
encomendadas a um compositor sozinho ou em dupla e não se reduziam a
a um parada de sucessos fabricados.
Viola Enluarada
(Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)
A mão que toca um
violão
Se for preciso faz a
guerra
Mata o mundo, fere a
terra
A voz que canta uma
canção
Se for preciso canta
um hino
Louva a morte
Viola em noite
enluarada
No sertão é como
espada
Esperança de
vingança
O mesmo que pé que
dança um samba
Se preciso, vai á
luta
Capoeira
Que tem de noite a
companheira
Sabe que a paz é
passageira
Para defendê-la se
levanta
E grita: Eu vou !
Mão, violão canção
e espada
E viola enluarada
Pelo campo e cidade
Porta bandeira,
capoeira
Desfilando vão
cantando
Liberdade !
Liberdade....
Liberdade,
liberdade.