Assis Valente
Vida
José de Assis Valente
nasceu em 19 de março de 1911. Tudo é obscuro a respeito de
informações sobre o início de sua vida a começar pelo local de
nascimento. Seria o Campo da Pólvora em Salvador. Outros biógrafos
porém, apontam o município de Santo Amaro da Purificação. A
certidão de casamento passada no Rio em 1939 aponta Pateoba como
berço. Sobre os pais parece não haver dúvidas: era filho de Maria
Esteves Valente, negra e José de Assis Valente descendente de
portugueses que lhe passou o nome na íntegra.
Morou em Alagoinhas com
a família que o sufocava com tarefas pesadas para um menino como a
de carregar sob o sol e a longa distância a farta feira semanal da
casa. Desligou-se dos tutores após voltar com eles para Salvador.
Assis Valente estudou
desenho e escultura no Liceu de Artes e Ofícios e fez um curso de
prótese dentária, especialidade na qual acabou como sinônimo de
excelência. O desenhista chegou a ganhar prêmio significativo
recebido das mãos do governador da Bahia J.J. Seabra, certamente no
segundo mandato de 1920 a 1924 deste político que já havia
governado o estado de 1912 a 1916. Costumam atribuir muitas
atividades a Assis Valente nesse período. Além de trabalhar no
circo, também dedicou-se ao estudo da arte e do aperfeiçoamento
como protético.
Veio para o Rio em
1927. Publicou desenhos nas prestigiosas revistas Fon-Fon e o
Cruzeiro e na atrevida Shimmy, nesta como colaborador regular. Impôs-
se como protético atividade na qual consolidou reputação única.
Boas Festas
Assis Valente compôs
Boas Festas em um Natal em que passou completamente solitário. Num
cubículo de casa modesta em Niterói reparou na gravura de artista
anônimo colada à parede na qual uma menina esperava o presente de
Papai Noel com os sapatinhos sobre a cama. A canção foi gravada por
Carlos Galhardo em outubro de 1933 com a Orquestra Diabos do Céu
arranjo e regência de Pixinguinha.
A letra é a seguinte:
Anoiteceu
O sino gemeu
A gente ficou
Feliz a rezar
Papai Noel
Vê se você tem
A felicidade
Pra você me dar
Eu pensei que todo
mundo
Fosse filho de Papai
Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que pedi
Mas o meu Papai Noel
não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não
tem.
Não há nesta canção
nenhum pieguismo ou ingenuidade mas sim perfeita assimilação da
filosofia popular. E uma postura oficial transformou a música em
hino oficial do Natal carioca. Melhor a musica se tornou o hino
informal do Natal brasileiro.
Carmem Miranda
O segredo da realização
de Assis Valente como compositor terá sido conquistar como
intérprete Carmem Miranda que o encantava também como mulher
Foi a grande cantora
que estreou a marchinha carnavalesca “Good Bye” vencedora do
concurso de marchinhas carnavalescas, sátira ao brasileiro que copia
e imita o estilo de vida e os modismos do inglês e do
norte-americano mal conhecendo a própria cultura.
Good bye
Good bye boy
Deixa a mania do inglês
È feio para você
Moreno frajola
Que nunca frequentou
As aulas de escola
Good bye
Good bye boy
Antes que a vida se vá
Ensinaremos cantando
BE-be Bi bi Ba ba
Não é mais boa noite
Nem bom dia
Só se fala good
morning e good night
Já desprezou o lampião
de querosene
Lá no morro só se usa
luz da Light.
O compositor já tinha
apelado para este tipo de sátira com “Tem francesa no morro”
sátira a estrangeirismos e modismos na linha aberta por Lamartine
Babo com “Canção para inglês ver” e engrandecida por Noel Rosa
com “Não tem tradução”
“Senti que tinha
surgido” - declarou o compositor no show em que Carmem Miranda
cantou Good Bye pela primeira vez em público. Foi um sucesso tão
grande que arrancou lágrimas dos olhos do compositor. Carmem o viu e
gritou para o povo “ Vou apresentar a vocês o dono da música”.
Houve bis todos cantaram em coro. A outro compositor Assis contou
como surgiu a composição: “Encontrei motivo quando fui a uma
festa em Vila Isabel onde as expressões em inglês eram usadas sem
senso de ridículo Declamava-se muito Olegário Mariano muito Menotti
del Picchia as senhoras em soirées e os almofadinhas trocavam muitos
bye-byes. Achei aquilo tudo engraçado e senti pena. Na volta para
casa tinha uma marchinha esboçada.
Morte
A morte de Assis
Valente foi suicídio. Matou-se na Praia do Russel adicionando
formicida a um copo de guaraná.
As causas para tal
atitude ainda não foram explicadas. Antes, em 1941, já tentara o
suicídio.
Nesta época cantava-se
por toda parte "Recenseamento" uma de suas melhores músicas
que aproveitava um episódio da rotina político-administrativa para
fixar novos flagrantes dos costumes dos morros a fazer deliciosas
ironias com o ufanismo oficial.
Tentara o suicídio
atirando-se do Corcovado. Tentativa infrutífera saltara para o lado
da Gávea onde a inclinação é menos íngreme e há muitas árvores.
O corpo enganchara-se na copa das árvores uns 70 metros abaixo. Em
sua queda no espaço o corpo havia misteriosamente se embaraçado no
cipoal e queda aparada, ficara enganchado numa árvore mais frondosa.
Os trabalhos de
salvamento levaram horas. Tarde da noite no Pronto Socorro
constatou-se que Assis tinha sido o primeiro homem a se atirar do
Corcovado e não morrer. No hospital confortado pela mulher Nadyle e
pelos amigos muito dos quais também compositores de música popular
foi interpelado pelo compositor Ary Barroso que o censurou fortemente
por ter tido aquela atitude. Sua resposta levantou uma ponta do
enigma: “ Glórias não resgatam letras.
A tentativa no
Corcovado teve muito mais repercussão do que o suicídio na Praia do
Russel- e isso nada tem a ver com sítios turísticos. Isso porque
foi a atitude de um homem que não interessava mais como artista a
uma indústria musical que estava tomando outros caminhos.
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