quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sinhô


Sinhô (José Barbosa da Silva)

Vida

José Barbosa da Silva, o Sinhô, autodenominado Rei do Samba, nasceu no Rio de Janeiro no dia 8 de setembro de 1888. Seu pai, Ernesto Barbosa da Silva, o Tené, era pintor. Tené acabou por se casar com a portuguesa Graciliana. Tiveram dois filhos, o mais velho. José, o Sinhô e o caçula, também Ernesto, o Caboclo.
O que se pode deduzir é que mesmo vindo do Estado do Rio, Ernesto não era tão pobre quanto os ex-escravos do vale do Paraíba. Pelo contrário, era pessoa já estabelecida com ofício, casa, comida, tempo para lazer e apreciador das artes com gosto pela música e vontade de que o filho viesse a ser flautista de um dos grupos de choro de sua admiração. Não fosse assim e Sinhô não teria o piano dos avós para descobrir seu verdadeiro instrumento que aprendeu rapidamente. Abandonou a flauta para se dedicar ao piano e, menos, ao violão e ao cavaquinho.
José livrou-se cedo da educação rigorosa que o pai lhe impusera. Não aprendeu flauta e não quis trabalhar como auxiliar de pintor. Aos 17 anos já estava vivendo com a portuguesa Henriqueta Ferreira, um ano mais nova, com quem foi morar no subúrbio de São Francisco Xavier. Tiveram três filhos, um homem e duas mulheres. Mudaram-se várias vezes, ( Engenho de Dentro, Morro do Castelo, Catumbi) e viveram quase sempre em extrema pobreza. Até que Henriqueta morreu, aos 25 anos, em 1914.
Pouco se sabe dos noves anos em comum que o compositor viveu com Henriqueta .O certo é que passaram por privações, dificuldades financeiras e mudanças. Consta que no entanto que em 1911 ele foi um dos fundadores e pianista do rancho Ameno Resedá, pelo qual saia no Carnaval. E tudo indica que o dinheiro, pouco, era ganho tocando piano em festas familiares e pequenos clubes do bairro. Ou, já depois da morte da mulher, em grêmios dançantes e carnavalescos em que se tornaria conhecido . Um deles, O Tome Abença a Vovó. Outro os Netinhos do Vovô. Outro mais, o Kananga do Japão, no número 44 do Senador Eusébio na Cidade Nova.
Sinhô tinha com o Kananga antiga relação sentimental o pai era sócio da casa e para ela pintara um dos estandartes.
Um ano depois da morte da mulher, de bolsos vazios ele já se fizera muito conhecido principalmente como pianista, hábil que era na execução de ritmos do momento. Em 1915, os jornais já se referiam a ele como inspirado maestro, inclusive como uma das atrações de recital realizado na sociedade Fidalgos da Cidade Nova, ele no piano e Pixinguinha na flauta. Sinhô era muito requisitado por toda parte. Por conta própria, fazia ponto em casas de música para travar conhecimento com o pessoal do meio e, ao mesmo tempo, aproveitar os pianos para ensaiar ou exibir-se para os clientes. Tinha comissão pela venda de um dos pianos.
A rotina seguida por Sinhô era a seguinte; acordar ao meio-dia, fazer ponto à tarde nas casas de música alternar as noites entre tocar em sociedades dançantes e frequentar reuniões musicais e cultos religiosos na Cidade Nova. Mais tarde ia tocar violão para uma de muitas de suas amantes, geralmente prostitutas.

Mulheres

Além de Henriqueta, Sinhô também conheceu uma mulher chamada Cecília, pianista, musicista formada, alguns anos mais velha que virou sua amante e era a pessoa a quem ele recorria para passar suas composições para a pauta antes de serem editadas. Com ela Sinhô aprendeu, de foma incipiente a ler partituras que tocava para os eventuais interessados em comprá-las. Depois de Cecília ele ainda teria entre incontáveis amantes duas com quem viveria: Carmem prostituta que trabalhava na Avenida Mem de Sá e Nair Moreira, a Francesa companheira de 1922 até sua morte
No enterro do compositor seria registrada uma briga ente Nair e Araci Cortes a maior estrela do teatro de revista da época.

Polêmicas Musicais

Vaidoso e carismático, Sinhô era um gênio da autopromoção. Para alcançar fama não hesitava em provocar outras pessoas em suas músicas. Um de seus alvos foi Pixinguinha, seu irmão Otávio da Rocha Viana e o grupo dos baianos, assim chamados porque eram descendentes dos escravos que vindos da Bahia migraram para o Rio na segunda metade do século XIX e que faziam suas reuniões nas casas das lendárias “tias” baianas cuja pessoa mais famosa foi Hilária Batista de Almeida, A Tia Ciata.
A primeira provocação musical foi com o samba “Quem são eles”

A Bahia é boa terra? Ela lá e eu aqui, iaiá /Ai ai ai/ Não era assim que o meu bem chorava/ Não precisa pedir que eu vou dar/Dinheiro não tenho, mas vou sambar....”

Não ficava claro a quem Sinhô provocava em seus versos, mas certamente era um ou vários baianos
A reação dos atingidos foi imediata. Hilário Jovino de Almeida respondeu com “ Não és tão falado assim”.
Donga, autor de “Pelo Telefone” registrado como primeiro samba da história da música popular brasileira com “ Fica calmo que aparece” e Pixinguinha e seu irmão com o mais explícito “ Já te digo”

Um sou eu/ E o outro eu já sei quem é/ Ele sofreu / Para usar colarinho em pé.”

Num dos versos desta música Sinhô era descrito como alto, magro, feio e desdentado. Na estrofe final o flautista Pixinguinha debocha do ex- flautista José:

No tempo em que tocava flauta/ Que desespero! / Hoje ele anda janota / A custa dos trouxas/ Do Rio de Janeiro”

Não devemos pensar que Sinhô se ofendeu com as respostas a seu samba, tivesse este, ou não, a turma baiana como alvo. Tudo aquilo servia aos seus propósitos que eram oferecer material para suas polêmicas musicais e o de se promover cada vez mais.

Para criticar o irmão de Pixinguinha, que tinha pés grandes, Sinhô fez a seguinte música:



O Pé de Anjo ( Sinhô)

Eu tenho uma tesourinha
Que corta ouro e marfim
Guardo também para cortar
As línguas que falam de mim
Ò pé de anjo, ó pé de anjo
És rezador, és rezador
Tens o pé tão grande
Que és capaz de pisar
Nosso senhor, nosso senhor
A mulher e a galinha
Um e outro interesseiro
A galinha pelo milho
E a mulher pelo dinheiro


A Sátira na obra de Sinhô

As sátiras e críticas de Sinhô não se limitavam ao grupo de baianos, nem a gente modesta da Cidade Nova . Ele chegou a satirizar ninguém menos que Rui Barbosa, o Águia de Haia, um dos maiores intelectuais brasileiros, o gênio da raça, mas que acumulava sucessivos fracassos políticos como a derrota para o marechal Hermes da Fonseca na frustrada campanha presidencial de 1910, conhecida como campanha civilista.

Fala Meu Louro (Sinhô)

A Bahia não dá mais coco
Para botar na tapioca
Pra fazer o bom mingau
Para embrulhar o carioca
Papagaio louro do bico dourado
Tu falavas tanto
Qual a razão que vives calado
Não tenhas medo
Coco de respeito
Quem quer se fazer não pode
Quem é bom já nasce feito


O Maxixe

Costuma denominar-se de maxixe uma forma mais lasciva e requebrada, com forte influência africana de dançar a polca, a habanera, o tango e outras formas de salão de origem europeia. Por isso se afirma que a forma de samba que Sinhô praticava, ou seja, o maxixe acabou, coincidindo com sua morte.
Mas foi com a obra de Sinhô que os brasileiros aprenderam a gostar de samba.
Sinhô morreu no Rio de Janeiro no dia 4 de agosto de 1930.



Nenhum comentário:

Postar um comentário