Sinhô (José Barbosa
da Silva)
Vida
José Barbosa da Silva,
o Sinhô, autodenominado Rei do Samba, nasceu no Rio de Janeiro no
dia 8 de setembro de 1888. Seu pai, Ernesto Barbosa da Silva, o Tené,
era pintor. Tené acabou por se casar com a portuguesa Graciliana.
Tiveram dois filhos, o mais velho. José, o Sinhô e o caçula,
também Ernesto, o Caboclo.
O que se pode deduzir é
que mesmo vindo do Estado do Rio, Ernesto não era tão pobre quanto
os ex-escravos do vale do Paraíba. Pelo contrário, era pessoa já
estabelecida com ofício, casa, comida, tempo para lazer e apreciador
das artes com gosto pela música e vontade de que o filho viesse a
ser flautista de um dos grupos de choro de sua admiração. Não
fosse assim e Sinhô não teria o piano dos avós para descobrir seu
verdadeiro instrumento que aprendeu rapidamente. Abandonou a flauta
para se dedicar ao piano e, menos, ao violão e ao cavaquinho.
José livrou-se cedo da
educação rigorosa que o pai lhe impusera. Não aprendeu flauta e
não quis trabalhar como auxiliar de pintor. Aos 17 anos já estava
vivendo com a portuguesa Henriqueta Ferreira, um ano mais nova, com
quem foi morar no subúrbio de São Francisco Xavier. Tiveram três
filhos, um homem e duas mulheres. Mudaram-se várias vezes, ( Engenho
de Dentro, Morro do Castelo, Catumbi) e viveram quase sempre em
extrema pobreza. Até que Henriqueta morreu, aos 25 anos, em 1914.
Pouco se sabe dos noves
anos em comum que o compositor viveu com Henriqueta .O certo é que
passaram por privações, dificuldades financeiras e mudanças.
Consta que no entanto que em 1911 ele foi um dos fundadores e
pianista do rancho Ameno Resedá, pelo qual saia no Carnaval. E tudo
indica que o dinheiro, pouco, era ganho tocando piano em festas
familiares e pequenos clubes do bairro. Ou, já depois da morte da
mulher, em grêmios dançantes e carnavalescos em que se tornaria
conhecido . Um deles, O Tome Abença a Vovó. Outro os Netinhos do
Vovô. Outro mais, o Kananga do Japão, no número 44 do Senador
Eusébio na Cidade Nova.
Sinhô tinha com o
Kananga antiga relação sentimental o pai era sócio da casa e para
ela pintara um dos estandartes.
Um ano depois da morte
da mulher, de bolsos vazios ele já se fizera muito conhecido
principalmente como pianista, hábil que era na execução de ritmos
do momento. Em 1915, os jornais já se referiam a ele como inspirado
maestro, inclusive como uma das atrações de recital realizado na
sociedade Fidalgos da Cidade Nova, ele no piano e Pixinguinha na
flauta. Sinhô era muito requisitado por toda parte. Por conta
própria, fazia ponto em casas de música para travar conhecimento
com o pessoal do meio e, ao mesmo tempo, aproveitar os pianos para
ensaiar ou exibir-se para os clientes. Tinha comissão pela venda de
um dos pianos.
A rotina seguida por
Sinhô era a seguinte; acordar ao meio-dia, fazer ponto à tarde nas
casas de música alternar as noites entre tocar em sociedades
dançantes e frequentar reuniões musicais e cultos religiosos na
Cidade Nova. Mais tarde ia tocar violão para uma de muitas de suas
amantes, geralmente prostitutas.
Mulheres
Além de Henriqueta,
Sinhô também conheceu uma mulher chamada Cecília, pianista,
musicista formada, alguns anos mais velha que virou sua amante e era
a pessoa a quem ele recorria para passar suas composições para a
pauta antes de serem editadas. Com ela Sinhô aprendeu, de foma
incipiente a ler partituras que tocava para os eventuais interessados
em comprá-las. Depois de Cecília ele ainda teria entre incontáveis
amantes duas com quem viveria: Carmem prostituta que trabalhava na
Avenida Mem de Sá e Nair Moreira, a Francesa companheira de 1922 até
sua morte
No enterro do
compositor seria registrada uma briga ente Nair e Araci Cortes a
maior estrela do teatro de revista da época.
Polêmicas Musicais
Vaidoso e carismático,
Sinhô era um gênio da autopromoção. Para alcançar fama não
hesitava em provocar outras pessoas em suas músicas. Um de seus
alvos foi Pixinguinha, seu irmão Otávio da Rocha Viana e o grupo
dos baianos, assim chamados porque eram descendentes dos escravos que
vindos da Bahia migraram para o Rio na segunda metade do século XIX
e que faziam suas reuniões nas casas das lendárias “tias”
baianas cuja pessoa mais famosa foi Hilária Batista de Almeida, A
Tia Ciata.
A primeira provocação
musical foi com o samba “Quem são eles”
A Bahia é boa terra?
Ela lá e eu aqui, iaiá /Ai ai ai/ Não era assim que o meu bem
chorava/ Não precisa pedir que eu vou dar/Dinheiro não tenho, mas
vou sambar....”
Não ficava claro a
quem Sinhô provocava em seus versos, mas certamente era um ou vários
baianos
A reação dos
atingidos foi imediata. Hilário Jovino de Almeida respondeu com “
Não és tão falado assim”.
Donga, autor de “Pelo
Telefone” registrado como primeiro samba da história da música
popular brasileira com “ Fica calmo que aparece” e Pixinguinha e
seu irmão com o mais explícito “ Já te digo”
Um sou eu/ E o outro eu
já sei quem é/ Ele sofreu / Para usar colarinho em pé.”
Num dos versos desta
música Sinhô era descrito como alto, magro, feio e desdentado. Na
estrofe final o flautista Pixinguinha debocha do ex- flautista José:
No tempo em que tocava
flauta/ Que desespero! / Hoje ele anda janota / A custa dos trouxas/
Do Rio de Janeiro”
Não devemos pensar que
Sinhô se ofendeu com as respostas a seu samba, tivesse este, ou não,
a turma baiana como alvo. Tudo aquilo servia aos seus propósitos que
eram oferecer material para suas polêmicas musicais e o de se
promover cada vez mais.
Para criticar o irmão
de Pixinguinha, que tinha pés grandes, Sinhô fez a seguinte música:
O Pé de Anjo ( Sinhô)
Eu tenho uma tesourinha
Que corta ouro e marfim
Guardo também para
cortar
As línguas que falam
de mim
Ò pé de anjo, ó pé
de anjo
És rezador, és
rezador
Tens o pé tão grande
Que és capaz de pisar
Nosso senhor, nosso
senhor
A mulher e a galinha
Um e outro interesseiro
A galinha pelo milho
E a mulher pelo
dinheiro
A Sátira na obra de
Sinhô
As sátiras e críticas
de Sinhô não se limitavam ao grupo de baianos, nem a gente modesta
da Cidade Nova . Ele chegou a satirizar ninguém menos que Rui
Barbosa, o Águia de Haia, um dos maiores intelectuais brasileiros, o
gênio da raça, mas que acumulava sucessivos fracassos políticos
como a derrota para o marechal Hermes da Fonseca na frustrada
campanha presidencial de 1910, conhecida como campanha civilista.
Fala Meu Louro (Sinhô)
A Bahia não dá mais
coco
Para botar na tapioca
Pra fazer o bom mingau
Para embrulhar o
carioca
Papagaio louro do bico
dourado
Tu falavas tanto
Qual a razão que vives
calado
Não tenhas medo
Coco de respeito
Quem quer se fazer não
pode
Quem é bom já nasce
feito
O Maxixe
Costuma denominar-se de
maxixe uma forma mais lasciva e requebrada, com forte influência
africana de dançar a polca, a habanera, o tango e outras formas de
salão de origem europeia. Por isso se afirma que a forma de samba
que Sinhô praticava, ou seja, o maxixe acabou, coincidindo com sua
morte.
Mas foi com a obra de
Sinhô que os brasileiros aprenderam a gostar de samba.
Sinhô morreu no Rio de
Janeiro no dia 4 de agosto de 1930.
Nenhum comentário:
Postar um comentário