quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Dorival Caymmi


Dorival Caymmi

Você já foi a Bahia ? ( Dorival Caymmi)

Você já foi a Bahia, nega ?
Não ?
Então vá
Quem vai o Bonfim minha nega
Nunca mais quer voltar
Muita sorte teve
Muita sorte tem
Muita sorte terá
Você já foi a Bahia, nega ?
Não ?
Então vá !
Lá tem vatapá !
Então vá !
Lá tem caruru
Então vá !
Lá tem mungunzá
Então vá !
Se quiser sambar
Então vá !
Nas sacadas dos sobrados
Da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito
Que nenhuma terra tem

Vida

O compositor Dorival Caymmi nasceu em Salvador ,capital da Bahia no dia 30 de abril de 1914. Era filho de Aurelina Cãndida Soares e do funcionário público Durval Henrique Caymmi.
Ele nasceu na Rua da Bangalã, hoje Luiz Gama, em São Salvador, Bahia de Todos os Santos. Bangalã nome de um grupo etnolinguístico de Angola era como se chamavam os negros trabalhadores nas obras das encostas da cidade alta, nos tempos coloniais.
A história da família deriva do bisavô italiano Enrico Balbino Caymmi que chegou á Bahia na segunda metade do século XIX para trabalhar na construção do Elevador Lacerda. Enrico casou-se com a portuguesa Maria da Glória que viera no mesmo navio que o trouxera da Europa.
Dorival viveu os primeiros momentos de sua infância no Campo da Pólvora, hoje Praça Rui Barbosa, depois mudou-se para a Rua Direita da Saúde, 29, onde guarda as primeiras lembranças, como a do pátio acimentado com um banco arredondado de plantas onde ouviu pela primeira vez a comovente Elegie de Jules Massenet muito tocado nos pianos e gramofones da época. A canção exerceu no menino um impacto, despertando sua vocação para a música.
Sua mãe gostava de cantar. O pai também. Canções a que os habitantes da região estavam acostumados a cantar. Eram cançonetas que vinham do teatro com uma influência europeia da passagem dos anos 1910 para os anos 1920. O pai Durval tinha três violões um deles de 18 mil réis comprado da Guitarra de Prata, no Rio de Janeiro e um bandolim napolitano, presente de um amigo. Foi ele que ensinou a Dorival as posições básicas de tons maiores ao violão.
Dorival cresceu em um ambiente musical e caseiro, ouvindo o som do piano da tia, do piano do seu Brim da família defronte, as polcas das festinhas na vizinhança, assim como frequentando as tardes domingueiras em que mulheres com robes caseiros e homens de pijamas de alamares brancos reuniam-se para cantar modinhas., em que cantores bons de peito e português apareciam para declamar Guerra Junqueiro ou Castro Alves sempre acompanhados de uma peça musical obrigatória, solicitada ao pianista antes da récita.
Contudo além das aulas de canto com a professora Amanda e a participação no coro em novenas e missas, crescia no menino Dorival o fascínio pelas ruas e e seus sons. Pelas ladeiras com vista do alto por torres de igrejas e conventos, ouvia cantigas e pregões das negras vendedoras noturnas, alguns em nagô e português.
Misturados ao ruído das carroças em ruas sem automóveis, ouvia sons dos afoxés com seus atabaques, chocalhos, cabaças e agogôs , mesmo instrumental dos candomblés.
Em 1930, Dorival com dezesseis anos, começa a compor paródias e versões para emboladas e sambas gravados por Almirante e os Turunas da Mauricéia. È dessa época também sua primeira composição nunca gravada “ No Sertão” canção cheia de lugares comuns: a roda da fogueira, o rancho fundo...
Uma profunda e radical mudança iria acontecer na personalidade e na música do jovem Dorival quando com dezessete para dezoito anos conheceu Itapoã apresentada pelo pai onde se chegava a pé, depois de saltar no ponto final do ônibus em Amaralina. As outras opções eram no caminhão do Seu Lisboa ou no ônibus de Seu Chico Mãozinha, português. Lá conhece pessoas simples e humildes chapéus de palha, tudo feito artesanalmente em agulhas de tecer rede.
Dorival passou a frequentar Itapoã, onde com amigos tocava violão, cantava, namorava. O Dorival rapazinho gostava de ouvir composições de Ary Barroso, de Joubert de Carvalho e vozes como as de Vicente Celestino ou Gastão Formenti, evocando o ambiente dos grotões, da saudade da cabocla ou de lendas folclóricas. Já com a vocação musical se confirmando ali por 1934 não podia deixar de ser atraído pelo ambiente de rádio. Ele e o melhor amigo Zezinho arriscaram uma visita á Rádio Clube, na Avenida Sete, onde foram recebidos por um cavalheiro que os convidou para um experiência no estúdio. Ambos cantavam parecido com Francisco Alves, o que agradou. Com mais dois amigos, formaram o grupo Três e Meio, nome sugerido pelo locutor Luis Paraguaçu, da Rádio, devido á estatura de um dos quatro integrantes. O conjunto amador, tinha como referência o Bando da Lua e se apresentava aos domingos.

Conselho Familiar

Dorival decidiu tentar o mundo, e foi para o Rio de Janeiro chegando nesta cidade do dia 4 de abril de 1938. Chegou ao Rio sozinho e sem dinheiro. Mas lembrava-se de um conselho familiar dado pelo pai de seu bisavô que quando o filho foi embarcar para o Brasil ganhou do pai um par de botinas e o conselho para sozinho enfrentar a vida : “ Faça-se homem.”

Esposa

Dorival Caymmi conheceu sua futura esposa que se chamava Stela Tostes na casa do famoso escritor Jorge Amado que ofereceu um banquete para os amigos. Stela era cantora principiante , tendo como profissão cantora de rádio.
O casal teve três filhos. Danilo, Nana ( que também seguiu a carreira de cantora) e Dori dignos guardiões e herdeiros da heranças musical dos pais.

João Valentão

Esta música de Dorival Caymmi fala e resume muito da personalidade do artista. Um homem calmo,, tranquilo, pacífico e equilibrado leitor de Voltaire. A sátira “ Cândido” deste filósofo e escritor francês sátira feroz ao “ melhor do mundos possíveis” do cientista alemão Leibnitz era uma de suas grandes paixões.
João Valentão é baseado na vida de Carapeba um pescador valente, contador de histórias durão e sonhador que serviu de base para esta famosa canção formando um tipo humano indescritível . João é bom de briga, provocador, mas para tudo quando vê um pôr-do-sol. Ele faz coisas que até Deus duvida mas se transforma em um preguiçoso sedutor( preguiça que é virtude não a do pecado capital) em que até a vontade de contar mentira é uma virtude. Apreciando a natureza ele muda de atitude tornando-se um homem contemplador e sereno.
A letra de refinado lirismo é a seguinte:

João Valentão ( Dorival Caymmi)

João valentão é brigão
Pra dar bofetão
Não presta atenção e nem pensa na vida
A todos João intimida
Faz coisas que até Deus duvida
Mas tem seu momento na vida
É quando o sol vai quebrando
Lá pro fim do mundo pra noite chegar
È quando se ouve mais forte
O ronco das ondas na beira do mar
É quando o cansaço da lida
Obriga João a sentar
E quando a morena se encolhe
Se chega pro lado querendo agradar
Se a noite é de lua
A vontade é contar mentira
É se espreguiçar
Deitar na areia da praia
Que acaba onde a vista não pode alcançar
E assim adormece esse homem
Que nunca precisa dormir para sonhar
Porque não há sonho mais lindo do que sua terra
Não há.

Dora

Dora ( Dorival caymmi)

Dora, rainha do frevo e do maracatu
Dora, rainha cafusa de um maracatu
Te conheci no Recife
Dos rios cortados de pontes
Dos bairros, das fontes, coloniais
Dora, chamei
Ô Dora !.... Ô Dora !
Eu vim á cidade
Pra ver você passar
Ô Dora...
Agora no meu pensamento eu te vejo requebrando
Pra cá, ora para lá !
Meu bem !....
Os clarins da banda militar
Tocam para anunciar
Sua Dora agora vai passar
Venham ver o que é bom
ô Dora rainha do frevo e do maracatu
Ninguém requebra nem dança
Melhor que tu.

Morte

Dorival Caymmi morreu no dia 16 de agosto de 2008.
Saudades da Bahia ( Dorival Caymmi)

Ai, ai que saudades eu tenho da bahia
Ai, seu eu escutasse o que mamãe dizia
“ Bem não vai deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão
Ai, se eu escutasse hoje não sofria
Ai, esta saudade dentro do meu peito
Ai. se ter saudade é ter algum defeito
Eu, pelo menos, mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar
Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um pobre infeliz
Que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz

Dorival Caymmi 

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