Waldir Azevedo
Vida
O
compositor Waldir Azevedo nasceu no Rio de Janeiro no dia 27 de
janeiro de 1923 no subúrbio carioca da Piedade, entre Meier e
Cascadura. Seus pais eram Walter, funcionário da Light e Benedita
Azevedo. O pai, como já foi dito, era funcionário da Light,
companhia responsável pelo fornecimento de eletricidade e pelos
bondes que circulavam no Rio de Janeiro.
Seus
pais desejavam que ele fosse sacerdote, atividade para a qual não
sentia a menor vocação. O menino queria ser aviador.
Mas
aviação acabou por perder Waldir. Às vésperas do Carnaval de
1933, o menino que tinha acabado de completar dez anos despertou para
a música se interessando por uma flautinha de lata que um vizinho
cujo apelido era Marreco tocava. Para arrecadar fundos e comprar o
instrumento, Waldir pegou uns passarinhos e os vendeu na feira do
subúrbio vizinho do Engenho de Dentro. Acabou por adquirir a flauta
e levou-a consigo para o Jardim do Meier e lá chamou a atenção
executando o grande sucesso daquele Carnaval. Tratava-se da marchinha
do compositor João de Barro conhecido como Braguinha, intitulada “
Trem Blindado” que trazia um curioso paralelo entre as desavenças
de um homem com sua sogra e a revolução constitucionalista de São
Paulo, o grande acontecimento do ano anterior.
Na
casa de um vizinho o menino ia olhar os saraus e ficava fascinado
como o bandolim. Pediu a um bandolinista para experimentar o
instrumento e foi constatado que ele levava jeito para a coisa. A
notícia chegou ao conhecimento da mãe de Waldir que desafiou o
filho dizendo que se ele aprendesse a tocar o “ 'Fado da Severa”
ganhava um bandolim.
Waldir
aprendeu a tocar o bandolim e ganhou seu primeiro instrumento de
cordas. No último ano do curso ginasial, se preparou para o concurso
de admissão a aviação militar, na época uma área ligada ao
Exército. A decepção veio com o exame médico que indicou que ele
tinha uma deficiência cardíaca que o impedia de seguir esta área.
Parece
que esta mudança de planos tirou o interesse do adolescente pelos
estudos e diante disso seu pai fez o que era comum da época;
arranjou um emprego para o filho na mesma empresa que trabalhava,
mesmo antes dele completar a maioridade. .Waldir começou no
escritório da Light, mas conseguiu depois ficar como apontador, um
trabalho externo que não tinha horários fixos e o deixava livre
para se dedicar a música.
Casamento
Certa
vez andando pelo bairro da Tijuca, Waldir foi apresentado a uma moça
que acabaria se tornando sua futura esposa. Ela se chamava Olinda
Barbosa.
Em
setembro de 1944, ficaram noivos. Casaram-se em janeiro do ano
seguinte., no dia do aniversário de Waldir.
A
época em que foi realizado o casamento era muito dura e difícil
pois era a época da Segunda Guerra Mundial e o jovem casal foi morar
em um quarto dos fundos da casa dos pais da Waldir, na Rua Oliveira,
no Meier, uma ladeira transversal à Rua Dias da Cruz, a principal do
bairro, em frente a um cinema chamado Imperador.
A
situação difícil levou Waldir a usar seu bom ouvido em outra
atividade que nada tinha de musical. Ele trabalhou por um tempo como
recepcionista numa oficina que consertava os utilitários e caminhões
da marca Nash. Bastava dar uma volta com o veículo que na volta
dizia, pelos ruídos que escutava, qual era o problema mecânico.
Waldir
e Olinda tiveram duas filhas chamadas Miriam e Marli.
Primeiro Emprego
O
casamento trouxe muita sorte ao noivo pois Waldir foi convocado para
fazer um teste na Rádio Clube do Brasil e com a perspectiva de um
emprego que lhe pagaria o dobro do da Light. A oportunidade surgiu a
partir da saída do conjunto dirigido pelo flautista Benedito
Lacerda, o mais prestigiado regional da época, da Rádio Clube.
O
primeiro emprego de Waldir no ramo da música aconteceu quando o
diretor da Rádio Clube, Renato Murce chamou o violonista Dilermando
Reis e lhe pediu que organizasse um grupo, pois uma emissora da época
não podia passar sem um conjunto regional. Esses grupos não
necessitavam de arranjos escritos e assim iam improvisando,
acompanhando calouros, músicas ainda inéditas tiradas na hora, ou
seja, com poucos músicos se preenchiam muitas horas de programação.
Waldir
arranjou um cavaquinho emprestado na loja Ao Bandolim de Ouro, com a
condição de comprá-lo caso fosse aprovado no teste. E foi se
preparar em casa. Aprovado, assumiu o emprego num momento em que
Dilermando começava a se destacar como solista de violão. Sendo
requisitado para apresentações fora do Rio ,o violonista foi
passando o comando do grupo a Waldir e este, com sua fabulosa
intuição, ia resolvendo todos os problemas mesmo sem conhecer
teoria musical ou ler partituras. Durante os anos que se seguiram, o
músico se tornou um profissional capaz de acompanhar dos cantores
mais brilhantes aos calouros mais desastrosos.
O
grande salto na vida de Waldir no entanto começou a acontecer no dia
em que um sobrinho pequeno insistiu para que o tio tocasse alguma
coisa com um cavaquinho de brinquedo que só tinha uma corda. Nasceu
ali o tema de “Brasileirinho” desenvolvido mais tarde e
harmonizado na rádio pelo violonista companheiro de regional, Jorge
Santos.
O
que o compositor não imaginava é que sua grande chance profissional
estava se criando ali mesmo na gravadora Continental alguns andares
acima. E foi novamente o compositor Braguinha (o autor da já citada
marcha “Trem Blindado”) que precisava de um solista de cordas
para recompor seu elenco. Ouvindo o conselho de seu técnico de
gravações, o também compositor Norival Reis e de Dilermando, seu
contratado, que já havia sobre um choro ligeiro do rapaz do
cavaquinho, foi ao auditório da Rádio Clube e ouviu Waldir tocar “
Brasileirinho .O convite para a gravação foi feito na hora e
combinaram ainda que um outro choro de Waldir “ Carioquinha”
completaria o disco.
Em
maio de 1949 e no mês seguinte o disco Continental chegou ao mercado
trazendo Carioquinha no lado A e Brasileirinho no B. Era a estreia de
um solista, de um compositor e de um som que ninguém jamais havia
escutado fora do âmbito da Rádio Clube.
O
som era excelente, o disco foi lançado mas nem o mais otimista das
pessoas poderia prever o resultado.
Perdas
Waldir
Azevedo passou por uma grande sofrimento. Foi quando aconteceu um
grave acidente de automóvel na região serrana do Rio envolvendo
suas duas filhas. Miriam, a mais velha não sobreviveu.
Para melhorar seu
quadro psicológico devido a perda da filha, Waldir ocupou o cargo de
vice- presidente da União Brasileira de Compositores..Também
começou a ler e escrever música.
Acidente
O
compositor também sofreu um grave acidente que quase lhe tirou a
possibilidade de tocar seu instrumento.
Ele
tinha a mania de consertar coisas. Um dia foi mexer no cortador de
grama. Desmontou o aparelho, limpou e lubrificou as peças,
desentortou e foi remontando. Quando estava quase no fim foi atender
o telefone. De volta, ligou o aparelho e a lâmina que ainda não
estava devidamente apertada, saiu do eixo e arrancou a ponta do dedo
anular esquerdo, Olina o socorreu e correram para o hospital.
Chegando lá o médico perguntou pelo pedaço do dedo e ela respondeu
que havia posto no lixo. Seguindo instruções médicas, voltou e
pegou o pedaço, que foi reimplantado. A recuperação foi lenta e
muito dolorosa
O
resultado da recuperação foi um bonito choro chamado “ Minhas
Mãos, Meu Cavaquinho” que cita um trecho da Ave- Maria.
O
Desafeto
Waldir
Azevedo foi o compositor popular de maior sucesso comercial da
história da MPB. Mas o seu sucesso incomodou muita gente
principalmente Jacob do Bandolim. Este artista, também um dos
maiores nomes da música popular brasileira passou a implicar com a
música do outro, referindo-se a ela como um amontoado de toleimas de
sandices chegando a classificar uma composição de Waldir, um baião
chamado “ Delicado” como o marco da deterioração da música
popular brasileira.
Morte
Ao
completar 57 anos, a saúde de Waldir já não era a mesma. Fumante
desde a juventude, tomava remédios para o coração, mas acabou
sofrendo a ruptura de um aneurisma abdominal. Após ser transferido
de Brasília para São Paulo para ser melhor assistido acabou
morrendo em 20 de setembro de 1980, depois de uma semana de hospital.
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