sábado, 11 de novembro de 2017

Ernesto Nazareth


Ernesto Nazareth

Pianista-compositor na tradição de Liszt e Chopin ou pianeiro “ chorão” dos salões e cinemas cariocas ? Ernesto Nazareth, compositor carioca que é estudado tanto no campo da música popular quanto no da música erudita autor de “ Odeon”, Brejeiro” e “ Apanhei-te Cavaquinho” está representado com igual destaque nas obras de referência sobre música popular e música erudita brasileira.
Ele dedicou suas obras, valsas, tangos e polcas brasileiros a seus maiores contemporâneos eruditos tais como o compositor Henrique Oswald, filho de suíço e a seu colega de cinema Odeon, Heitor Villa-Lobos que também lhe dedicou uma obra ( O Choro n 1 para violão solo).
Claro que em uma sociedade desigual como a da belle époque brasileira em que as cicatrizes de um sistema escravocrata recém- abolido ainda se faziam muito visíveis, a música também era sinônimo de distinção social.
Assim é que quando, na década de 20, Villa-Lobos pediu apoio oficial para viajar a Paris, um de seus mais apaixonados defensores foi Gilberto Amado ( 1887-1969). O flautista e saxofonista Pixinguinha e seus Oito Batutas tinham acabado de fazer, na França, um sucesso que incomodava a elite nacional e segundo Amado era fundamental enviar Villa-Lobos para a Europa com o intuito de mostrar que nossa arte era muito mais elevada que a música que Pixinguinha e seus colegas representavam.
No caso de Nazareth, causou escândalo a ideia do compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920) que havia se formado na Europa e regido a Filarmônica de Berlim e como diretor do Instituto Nacional de Música, era uma das figuras musicais mais proeminentes da República de incluí-lo entre os participantes dos concertos que em 1908 celebravam o centenário da abertura dos portos brasileiros “as nações amigas” por Dom João VI. A elite nacional não aceitou um nome da música popular em um concerto de música erudita.
Ernesto Júlio de Nazareth nasceu em 20 de março de 1863, no morro do Nheco, na região da Cidade Nova, no Rio de Janeiro, segundo filho de Vasco Lourenço da Silva Nazareth e Carolina Augusta Pereira da Cunha de Nazareth. Seus irmãos eram Vasco Filho, Júlia Adélia, Maria Carolina e Brizabela que morreu aos três anos.
Seu pai trabalhava como despachante aduaneiro no porto do Rio de Janeiro. Sua mãe dedilhava o piano da família- porque em uma época que ainda não havia rádio ou discos, esse era o único meio de ter música em casa.
Foi assim pelas mãos de Carolina que todos os filhos do casal iniciaram seus estudos musicais e ao que parece Ernesto foi de longe o que manifestou maior interesse. Em 1873, contudo o aprendizado se interrompeu com seu falecimento precoce e inesperado da mãe do compositor.
No mesmo ano, Ernesto então com dez anos caiu de uma árvore sofrendo hemorragia no ouvido direito. Foi o inicio de problemas auditivos que ao acompanhariam a vida inteira e que em seus anos finais agravados pela sífilis, teriam a surdez como consequência.
Depois da perda de Carolina, a família se mudou para a rua Berço de Ouro e Vasco, de luto, proibiu Ernesto de tocar piano. A tristeza e o isolamento em que o menino caiu depois da interdição, contudo, levaram o pai a rever sua decisão e a contratar Eduardo Madeira para prosseguir com sua educação pianística.
Aos 16 anos de idade, Nazareth saiu-se com sua primeira obra- para piano solo. Tratava-se da polca- lundu “ Você bem sabe”.
A escravidão ainda não tinha sido abolida nem a República proclamada quando Nazareth se casou em 1886 com Theodora Amalia Leal de Meirelles. A família não demorou a crescer, em 1887 nasceu a primeira filha do casal Eulina, primeira dos seis filhos do compositor.
Para sustentar a família, Nazareth levava adiante o ofício que então era chamado algo pejorativamente, de pianeiro, dedilhando o instrumento em casas de venda de música ( como demonstrador, executando as partituras negociadas a seus eventuais compradores.) A renda também era complementada com aulas de piano,
O único emprego com registro que teve foi o de terceiro escriturário do Tesouro Nacional em 1907, função interina, do qual se desligou em poucos meses, devido ao fato que para sua efetivação, teria que prestar um concurso público que exigia conhecimento da língua inglesa.
As músicas de Ernesto Nazareth foram denominada por ele mesmo de tangos que nada tem a ver como os similares portenhos. Olhando de perto, a denominação de tango brasileiro nada mais parecia que a denominação respeitável que se dava a uma “ selvagem”, “lasciva” e sincopada dança afro-brasileira de grande sucesso naqueles tempos: o maxixe.
O estigma contra este tipo de música era tão forte que o presidente da República Marechal Hermes da Fonseca ( 1855-1923) chegou a baixar um decreto que proibia a execução de peças do gênero por bandas militares.
E o próprio Nazareth não apreciava que suas obras para piano fossem tomadas como pertencentes a este estilo considerado música reprovável. È mencionado a repugnância do músico diante da confusão que faz com que seus tangos fossem chamados de maxixes.
Com o caminho aplainado pela propaganda modernista, tudo parecia propício a conquista da Pauliceia pelo autor de Odeon. Em 1926, aos 63 anos de idade, ele saia de seu Estado Natal pela primeira vez para ter a mais calorosa das acolhidas.
Teve direito a Festival Nazareth, recitais no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e a grande consagração: um concerto no Teatro Municipal, promovido pela Sociedade de Cultura Artística e precedido de conferência de Mário de Andrade.
De volta ao Rio de Janeiro, Nazareth sentia a audição declinar. Em 1929 ano em que Francisco Alves, o Rei da Voz gravou “ Favorito”( com letras de autor desconhecido), participou de evento em benefício da Policlínica de Botafogo. No mesmo ano, ficou viúvo.
Embora a saúde não fosse das melhores, deixou que amigos gaúchos o convencessem a empreender uma turnê pelo Rio Grande do Sul, em 1932. Depois de tocar em Porto Alegre, Rosário e Campo de Santana do Livramento, foi para Montevidéu, de onde deveria rumar para o Rio de Janeiro.
Na capital uruguaia, contudo teve uma crise nervosa: teve que ser retirado á força de uma casa de música, no qual tocava piano convulsivamente. De volta ao Brasil,o diagnóstico foi sífilis na quarta fase- quando o cérebro é atingido.
O quadro neurológico era irreversível e Nazareth acabou internado na colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá, em janeiro de 1933. Não era incomum que fugisse do manicômio, vez por outra, era encontrado tocando piano em alguma casa de partituras. Fugiu pela última vez no dia 1 de fevereiro de 1934 , fuga sem volta. No dia 4 de fevereiro de 1934, seu corpo foi encontrado em uma represa, nos arredores da colônia.

Ernesto Nazareth 

Nenhum comentário:

Postar um comentário