Ernesto
Nazareth
Pianista-compositor
na tradição de Liszt e Chopin ou pianeiro “ chorão” dos salões
e cinemas cariocas ? Ernesto Nazareth, compositor carioca que é
estudado tanto no campo da música popular quanto no da música
erudita autor de “ Odeon”, Brejeiro” e “ Apanhei-te
Cavaquinho” está representado com igual destaque nas obras de
referência sobre música popular e música erudita brasileira.
Ele
dedicou suas obras, valsas, tangos e polcas brasileiros a seus
maiores contemporâneos eruditos tais como o compositor Henrique
Oswald, filho de suíço e a seu colega de cinema Odeon, Heitor
Villa-Lobos que também lhe dedicou uma obra ( O Choro n 1 para
violão solo).
Claro
que em uma sociedade desigual como a da belle époque brasileira em
que as cicatrizes de um sistema escravocrata recém- abolido ainda se
faziam muito visíveis, a música também era sinônimo de distinção
social.
Assim
é que quando, na década de 20, Villa-Lobos pediu apoio oficial para
viajar a Paris, um de seus mais apaixonados defensores foi Gilberto
Amado ( 1887-1969). O flautista e saxofonista Pixinguinha e seus Oito
Batutas tinham acabado de fazer, na França, um sucesso que
incomodava a elite nacional e segundo Amado era fundamental enviar
Villa-Lobos para a Europa com o intuito de mostrar que nossa arte era
muito mais elevada que a música que Pixinguinha e seus colegas
representavam.
No
caso de Nazareth, causou escândalo a ideia do compositor cearense
Alberto Nepomuceno (1864-1920) que havia se formado na Europa e
regido a Filarmônica de Berlim e como diretor do Instituto Nacional
de Música, era uma das figuras musicais mais proeminentes da
República de incluí-lo entre os participantes dos concertos que em
1908 celebravam o centenário da abertura dos portos brasileiros “as
nações amigas” por Dom João VI. A elite nacional não aceitou um
nome da música popular em um concerto de música erudita.
Ernesto
Júlio de Nazareth nasceu em 20 de março de 1863, no morro do Nheco,
na região da Cidade Nova, no Rio de Janeiro, segundo filho de Vasco
Lourenço da Silva Nazareth e Carolina Augusta Pereira da Cunha de
Nazareth. Seus irmãos eram Vasco Filho, Júlia Adélia, Maria
Carolina e Brizabela que morreu aos três anos.
Seu
pai trabalhava como despachante aduaneiro no porto do Rio de Janeiro.
Sua mãe dedilhava o piano da família- porque em uma época que
ainda não havia rádio ou discos, esse era o único meio de ter
música em casa.
Foi
assim pelas mãos de Carolina que todos os filhos do casal iniciaram
seus estudos musicais e ao que parece Ernesto foi de longe o que
manifestou maior interesse. Em 1873, contudo o aprendizado se
interrompeu com seu falecimento precoce e inesperado da mãe do
compositor.
No
mesmo ano, Ernesto então com dez anos caiu de uma árvore sofrendo
hemorragia no ouvido direito. Foi o inicio de problemas auditivos que
ao acompanhariam a vida inteira e que em seus anos finais agravados
pela sífilis, teriam a surdez como consequência.
Depois
da perda de Carolina, a família se mudou para a rua Berço de Ouro e
Vasco, de luto, proibiu Ernesto de tocar piano. A tristeza e o
isolamento em que o menino caiu depois da interdição, contudo,
levaram o pai a rever sua decisão e a contratar Eduardo Madeira para
prosseguir com sua educação pianística.
Aos
16 anos de idade, Nazareth saiu-se com sua primeira obra- para piano
solo. Tratava-se da polca- lundu “ Você bem sabe”.
A
escravidão ainda não tinha sido abolida nem a República proclamada
quando Nazareth se casou em 1886 com Theodora Amalia Leal de
Meirelles. A família não demorou a crescer, em 1887 nasceu a
primeira filha do casal Eulina, primeira dos seis filhos do
compositor.
Para
sustentar a família, Nazareth levava adiante o ofício que então
era chamado algo pejorativamente, de pianeiro, dedilhando o
instrumento em casas de venda de música ( como demonstrador,
executando as partituras negociadas a seus eventuais compradores.) A
renda também era complementada com aulas de piano,
O
único emprego com registro que teve foi o de terceiro escriturário
do Tesouro Nacional em 1907, função interina, do qual se desligou
em poucos meses, devido ao fato que para sua efetivação, teria que
prestar um concurso público que exigia conhecimento da língua
inglesa.
As
músicas de Ernesto Nazareth foram denominada por ele mesmo de tangos
que nada tem a ver como os similares portenhos. Olhando de perto, a
denominação de tango brasileiro nada mais parecia que a denominação
respeitável que se dava a uma “ selvagem”, “lasciva” e
sincopada dança afro-brasileira de grande sucesso naqueles tempos: o
maxixe.
O
estigma contra este tipo de música era tão forte que o presidente
da República Marechal Hermes da Fonseca ( 1855-1923) chegou a baixar
um decreto que proibia a execução de peças do gênero por bandas
militares.
E o
próprio Nazareth não apreciava que suas obras para piano fossem
tomadas como pertencentes a este estilo considerado música
reprovável. È mencionado a repugnância do músico diante da
confusão que faz com que seus tangos fossem chamados de maxixes.
Com
o caminho aplainado pela propaganda modernista, tudo parecia propício
a conquista da Pauliceia pelo autor de Odeon. Em 1926, aos 63 anos de
idade, ele saia de seu Estado Natal pela primeira vez para ter a mais
calorosa das acolhidas.
Teve
direito a Festival Nazareth, recitais no Conservatório Dramático e
Musical de São Paulo e a grande consagração: um concerto no Teatro
Municipal, promovido pela Sociedade de Cultura Artística e
precedido de conferência de Mário de Andrade.
De
volta ao Rio de Janeiro, Nazareth sentia a audição declinar. Em
1929 ano em que Francisco Alves, o Rei da Voz gravou “ Favorito”(
com letras de autor desconhecido), participou de evento em benefício
da Policlínica de Botafogo. No mesmo ano, ficou viúvo.
Embora
a saúde não fosse das melhores, deixou que amigos gaúchos o
convencessem a empreender uma turnê pelo Rio Grande do Sul, em
1932. Depois de tocar em Porto Alegre, Rosário e Campo de Santana do
Livramento, foi para Montevidéu, de onde deveria rumar para o Rio de
Janeiro.
Na
capital uruguaia, contudo teve uma crise nervosa: teve que ser
retirado á força de uma casa de música, no qual tocava piano
convulsivamente. De volta ao Brasil,o diagnóstico foi sífilis na
quarta fase- quando o cérebro é atingido.
O
quadro neurológico era irreversível e Nazareth acabou internado na
colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá, em janeiro de 1933. Não
era incomum que fugisse do manicômio, vez por outra, era encontrado
tocando piano em alguma casa de partituras. Fugiu pela última vez no
dia 1 de fevereiro de 1934 , fuga sem volta. No dia 4 de fevereiro de
1934, seu corpo foi encontrado em uma represa, nos arredores da
colônia.
Ernesto Nazareth
Ernesto Nazareth
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