Nelson Cavaquinho
Juízo Final (Nelson
Cavaquinho- Guilherme de Brito)
O sol há de brilhar
mais uma vez
A luz há de chegar aos
corações
Do mal será queimada a
semente
O amor será eterno
novamente
É o juízo final
A história do bem e do
mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer
O amor será eterno
novamente
O amor será eterno
novamente
Vida
Ele era um dos seis
filhos da lavadeira Maria Paula da Silva que teria origem índia e
paraguaia e de Brás Antônio da Silva, um contramestre negro da
Banda da Polícia Militar que tocava tuba.
Sua data de nascimento
verdadeira suscitou polêmica. Nelson Antônio da Silva nasceu na rua
Mariz e Barros, próximo a praça da Bandeira em 28 de outubro (para
uns 29 de outubro) de 1911 no Rio de Janeiro. Mas o ano seria
alterado para 1910 pelo pai para inscrevê-lo na Polícia Militar.
Foi criado na Lapa no centro do Rio, reduto da malandragem e da
boêmia onde conheceria valentões como Brancura, Miguelzinho da
Lapa, Itália. O quartel do pai ficava perto na rua Evaristo da Veiga
onde também havia uma escola primária, que ele frequentaria por
pouco tempo. A mãe lavava roupa para as freiras Carmelitas do
convento de Santa Teresa, próximo aos Arcos da Lapa.
Ali o menino aprendeu
catecismo e tornou-se fervoroso cristão apesar de viver na boêmia.
Além do pai, o tio era músico, violinista o que instigou o garoto a
improvisar um instrumento próprio, utilizando uma tampa de caixa de
charuto e barbantes esticados. Pressionada pelo dinheiro curto a
família mudou-se para o longínquo subúrbio de Ricardo de
Albuquerque onde Nelson foi obrigado a contribuir para o orçamento
familiar. Trabalhou como tirador de espolim (resíduos têxteis) numa
fábrica de tecidos em Deodoro. Na rua do Senado, no Centro também,
durou pouco como ajudante de eletricista. Tentou, igualmente sem
sucesso, o futebol num clube de Várzea chamado Barreira onde atuou
na ponta direita e jogou com futuros titulares do América e
Madureira.
Depois a família foi
morar na Gávea, na zona sul do Rio. O bairro, hoje de classe média
alta, na época concentrava muitas fábricas e perto de 50 mil
operários como Nelson. Ele preferia frequentar os clubes recreativos
locais como Chuveiro de Ouro, Carioca Musical e Gravatá, onde
conheceu músicos como Juquinha (que o adestrou no cavaquinho chorão)
Mazinho do Bandolim e Edgar Flauta da Gávea. Alguns deles formaram
um conjunto e convocaram o iniciante, que aos 16 de anos já assinara
a primeira composição, o choro “Queda”. O título definia o
desafio entre bambas do ramo, cada um pretendendo derrubar o outro
nos improvisos. De volta ao centro da cidade foi trabalhar como
bombeiro hidráulico e passou a frequentar uma roda de choro na rua
da Conceição, onde conheceu os irmãos Romualdo e Luperce Miranda o
segundo um renomado virtuose do bandolim.
Seu primeiro casamento
foi com Alice Pereira Neves. A falta de recursos obrigou o pai a pôr
o filho para trabalhar na Polícia Militar como única forma de
conseguir renumeração para o filho rebelde. Mas não adiantou nada.
O filho preferia confraternizar com outros sambistas no Morro da
Mangueira que ele patrulhava.. As constantes punições por
indisciplina acabaram resultando na baixa da corporação do soldado
boêmio em 1938. Ainda trabalhou em cortume e como operário por
empreitada.
Estilo
Nelson Cavaquinho não
teve uma carreira artística no sentido formal do termo. Sua música
fez dele o cantor da melancolia e das angústias existenciais. Apesar
do compositor não ter ultrapassado o curso primário os temas de sua
música guardam estreita relação com a psicanálise de Freud. Em
sua obra ele abordou todos os arquétipos freudianos e o tema
principal de sua obra: a morte.
Ousou compor uma música
que falava de necrofilia(a obsessão e fixação sexual por
cadáveres):
Depois da Vida (Nelson
Cavaquinho/ Guilherme de Brito/ Paulo Gesta)
Passei a mocidade
esperando dar-te um beijo
Sei que agora é tarde,
mas matei o meu desejo
È pena que os lábios
gelados como os teus
Não sintam o calor que
eu conservei nos lábios meus
No teu funeral está
tão fria assim
Ai de mim e dos beijos
meus
Eu te esperei minha
querida
Mas só te beijei
depois da vida.
Guilherme de Brito
Guilherme de Brito
Bollhorts(1922-2006) foi o principal e constante parceiro de Nelson.
De família empobrecida após a morte do pai, Guilherme empregou-se
como office boy na lendária Casa Edson a primeira fabricante de
discos no país, onde trabalharia, já no setor de máquinas até
aposentar-se.
È da dupla a música
“A Flor e o Espinho”
A Flor e o Espinho
(Nelson Cavaquinho- Guilherme de Brito- Alcides Caminha)
Tire o seu sorriso do
caminho
Que eu quero passar com
minha dor
Hoje para você eu sou
espinho
Espinho não machuca a
flor
Eu só errei quando
juntei minh ´alma a tua
O sol não pode viver
perto da lua
É no espelho que eu
vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus
olhos rasos d´água
Eu na sua vida já fui
uma flor
Hoje sou espinho em seu
amor.
Momentos finais
Da vida pessoal
conturbada do artista sabe-se pouco apenas que a última esposa,
Durvalina Maria de Jesus (a quem dedicou Minha Festa) teria tolerado
até o final o comportamento boêmio do marido. Em meados dos anos
60, Nelson ganhou uma casa do governo estadual na Quincas Laranjeira,
158, na Vila Esperança no distante subúrbio de Jardim América.
Encerraria seus dias mesmo bairro mas já na rua Franz Liszt (no
número 288) homenagem ao extraordinário compositor e virtuose do
piano húngaro.
Nelson sabia cultivar
sua lenda pessoal. Gostava de repetir uma história: de noite teve um
pesadelo: morreria ás três da manhã. Acordou ás 2:45 e atrasou o
relógio. Na vida prática ele nunca se preocupou com horários.
Sobre a morte tema
básico e constante de sua obra ele dizia dando uma explicação
sobre seu processo criativo
_ Eu não tenho medo de
morrer. É por isso que falo muito na morte. Sei que vou desencarnar
aqui e espero nascer em outra vida.
Teve seu melhor disco
gravado em 1973 na Odeon produzido pelo paulista J.C. Botezelli
apelidado de Pelão.
Era fumante compulsivo
e bebia muito. Foi internado na clínica Monte Sinai no Jardim
América, em dezembro de 1985. Ele morreria no dia 18 de fevereiro de
1986 de enfisema pulmonar logo após mais um carnaval vitorioso pela
Estação Primeira de Mangueira escola de samba do coração.
Foram prestados a ele
muitos tributos póstumos por outros artistas da música popular
brasileira.
Vou Partir (Nelson
Cavaquinho/ Jair do Cavaquinho)
Vou partir
Não sei se voltarei
Tu não me queiras mal
Hoje é carnaval
Partirei para bem longe
Não precisa se
preocupar
Só voltarei pra casa
Quando o carnaval
acabar, acabar
(Vou partir)
Vou partir
Não sei se voltarei
Tu não me queiras mal
Hoje é carnaval
Partirei para bem longe
Não precisa se
preocupar
Só voltarei pra casa
Quando o carnaval
acabar, acabar.
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