segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Nelson Cavaquinho


Nelson Cavaquinho

Juízo Final (Nelson Cavaquinho- Guilherme de Brito)

O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer
O amor será eterno novamente
O amor será eterno novamente

Vida

Ele era um dos seis filhos da lavadeira Maria Paula da Silva que teria origem índia e paraguaia e de Brás Antônio da Silva, um contramestre negro da Banda da Polícia Militar que tocava tuba.
Sua data de nascimento verdadeira suscitou polêmica. Nelson Antônio da Silva nasceu na rua Mariz e Barros, próximo a praça da Bandeira em 28 de outubro (para uns 29 de outubro) de 1911 no Rio de Janeiro. Mas o ano seria alterado para 1910 pelo pai para inscrevê-lo na Polícia Militar. Foi criado na Lapa no centro do Rio, reduto da malandragem e da boêmia onde conheceria valentões como Brancura, Miguelzinho da Lapa, Itália. O quartel do pai ficava perto na rua Evaristo da Veiga onde também havia uma escola primária, que ele frequentaria por pouco tempo. A mãe lavava roupa para as freiras Carmelitas do convento de Santa Teresa, próximo aos Arcos da Lapa.
Ali o menino aprendeu catecismo e tornou-se fervoroso cristão apesar de viver na boêmia. Além do pai, o tio era músico, violinista o que instigou o garoto a improvisar um instrumento próprio, utilizando uma tampa de caixa de charuto e barbantes esticados. Pressionada pelo dinheiro curto a família mudou-se para o longínquo subúrbio de Ricardo de Albuquerque onde Nelson foi obrigado a contribuir para o orçamento familiar. Trabalhou como tirador de espolim (resíduos têxteis) numa fábrica de tecidos em Deodoro. Na rua do Senado, no Centro também, durou pouco como ajudante de eletricista. Tentou, igualmente sem sucesso, o futebol num clube de Várzea chamado Barreira onde atuou na ponta direita e jogou com futuros titulares do América e Madureira.
Depois a família foi morar na Gávea, na zona sul do Rio. O bairro, hoje de classe média alta, na época concentrava muitas fábricas e perto de 50 mil operários como Nelson. Ele preferia frequentar os clubes recreativos locais como Chuveiro de Ouro, Carioca Musical e Gravatá, onde conheceu músicos como Juquinha (que o adestrou no cavaquinho chorão) Mazinho do Bandolim e Edgar Flauta da Gávea. Alguns deles formaram um conjunto e convocaram o iniciante, que aos 16 de anos já assinara a primeira composição, o choro “Queda”. O título definia o desafio entre bambas do ramo, cada um pretendendo derrubar o outro nos improvisos. De volta ao centro da cidade foi trabalhar como bombeiro hidráulico e passou a frequentar uma roda de choro na rua da Conceição, onde conheceu os irmãos Romualdo e Luperce Miranda o segundo um renomado virtuose do bandolim.
Seu primeiro casamento foi com Alice Pereira Neves. A falta de recursos obrigou o pai a pôr o filho para trabalhar na Polícia Militar como única forma de conseguir renumeração para o filho rebelde. Mas não adiantou nada. O filho preferia confraternizar com outros sambistas no Morro da Mangueira que ele patrulhava.. As constantes punições por indisciplina acabaram resultando na baixa da corporação do soldado boêmio em 1938. Ainda trabalhou em cortume e como operário por empreitada.

Estilo
Nelson Cavaquinho não teve uma carreira artística no sentido formal do termo. Sua música fez dele o cantor da melancolia e das angústias existenciais. Apesar do compositor não ter ultrapassado o curso primário os temas de sua música guardam estreita relação com a psicanálise de Freud. Em sua obra ele abordou todos os arquétipos freudianos e o tema principal de sua obra: a morte.
Ousou compor uma música que falava de necrofilia(a obsessão e fixação sexual por cadáveres):

Depois da Vida (Nelson Cavaquinho/ Guilherme de Brito/ Paulo Gesta)

Passei a mocidade esperando dar-te um beijo
Sei que agora é tarde, mas matei o meu desejo
È pena que os lábios gelados como os teus
Não sintam o calor que eu conservei nos lábios meus
No teu funeral está tão fria assim
Ai de mim e dos beijos meus
Eu te esperei minha querida
Mas só te beijei depois da vida.


Guilherme de Brito

Guilherme de Brito Bollhorts(1922-2006) foi o principal e constante parceiro de Nelson. De família empobrecida após a morte do pai, Guilherme empregou-se como office boy na lendária Casa Edson a primeira fabricante de discos no país, onde trabalharia, já no setor de máquinas até aposentar-se.

È da dupla a música “A Flor e o Espinho”

A Flor e o Espinho (Nelson Cavaquinho- Guilherme de Brito- Alcides Caminha)

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com minha dor
Hoje para você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh ´alma a tua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos d´água
Eu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor.

Momentos finais

Da vida pessoal conturbada do artista sabe-se pouco apenas que a última esposa, Durvalina Maria de Jesus (a quem dedicou Minha Festa) teria tolerado até o final o comportamento boêmio do marido. Em meados dos anos 60, Nelson ganhou uma casa do governo estadual na Quincas Laranjeira, 158, na Vila Esperança no distante subúrbio de Jardim América. Encerraria seus dias mesmo bairro mas já na rua Franz Liszt (no número 288) homenagem ao extraordinário compositor e virtuose do piano húngaro.
Nelson sabia cultivar sua lenda pessoal. Gostava de repetir uma história: de noite teve um pesadelo: morreria ás três da manhã. Acordou ás 2:45 e atrasou o relógio. Na vida prática ele nunca se preocupou com horários.
Sobre a morte tema básico e constante de sua obra ele dizia dando uma explicação sobre seu processo criativo
_ Eu não tenho medo de morrer. É por isso que falo muito na morte. Sei que vou desencarnar aqui e espero nascer em outra vida.
Teve seu melhor disco gravado em 1973 na Odeon produzido pelo paulista J.C. Botezelli apelidado de Pelão.
Era fumante compulsivo e bebia muito. Foi internado na clínica Monte Sinai no Jardim América, em dezembro de 1985. Ele morreria no dia 18 de fevereiro de 1986 de enfisema pulmonar logo após mais um carnaval vitorioso pela Estação Primeira de Mangueira escola de samba do coração.
Foram prestados a ele muitos tributos póstumos por outros artistas da música popular brasileira.

Vou Partir (Nelson Cavaquinho/ Jair do Cavaquinho)

Vou partir
Não sei se voltarei
Tu não me queiras mal
Hoje é carnaval
Partirei para bem longe
Não precisa se preocupar
Só voltarei pra casa
Quando o carnaval acabar, acabar
(Vou partir)
Vou partir
Não sei se voltarei
Tu não me queiras mal
Hoje é carnaval
Partirei para bem longe
Não precisa se preocupar
Só voltarei pra casa
Quando o carnaval acabar, acabar.





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