Sylvia Telles
Dindi ( Antônio Carlos Jobim- Aloysio de Oliveira)
Céu , tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Pra onde elas vão
Ah ! eu não sei, não sei
E o vento que fala nas folhas
Contando as histórias
Que são de ninguém
Mas que são minhas
E de você também
Ah ! Dindi
Se soubesses do bem que eu te quero
O mundo seria Dindi, tudo, Dindi
Lindo, Dindi
Ah ! Dindi
Se um dia você for embora me leva contigo Dindi
Fica Dindi, olha Dindi
E as águas deste rio aonde vão eu não sei
A minha vida inteira esperei, esperei
Por você Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
Você não existe, Dindi
Olha, Dindi
Advinha, Dindi
Deixa, Dindi
Que eu te adore, Dindi... Dindi
Vida
A famosa cantora e intérprete da bossa nova Sylvia Telles nasceu no
Rio de Janeiro no dia 27 de agosto de 1935. Era filha de Paulo
Telles, paulista de origem, de uma família de juristas e
intelectuais. Seu irmão chamava-se Mário Telles. Sua mãe, Dona
Maria, era francesa de nascimento.
Sylvia estudou no colégio Sacre Couer de Marie situado no bairro das
Laranjeiras. Fazia dança com a professora Madeleine Rosay do Corpo
de Baile do Teatro Municipal.
O irmão de Sylvia ajudava o pai a tocar o negócio da família, no
ramo de tecidos. Era amigo de João Gilberto o famoso compositor que
inaugurou a famosa batida da bossa nova. Mas o que empolgava de
verdade o irmão de Sylvia eram os conjuntos vocais e a intimidade
que ele tinha com um deles Os Garotos da Lua, do qual João Gilberto
fazia parte. Era amigo de dois integrantes do conjunto, Jonas e Acyr
que trabalhavam nas lojas Murray como balconistas encarregados da
venda de discos. As lojas de disco geralmente eram lojas de
eletrodomésticos que também vendiam discos.
Com essas amizades, a casa do pai de Sylvia Telles era muito
frequentada por vocalistas o que chamou a atenção de Sylvia a irmã
caçula da família que também gostava de cantar. Foi ai que a
artista descobriu sua vocação.
O Evento no Grupo Hebraico
Sylvia acabou participando de um humilde evento que a transformou
numa das percursoras da bossa nova. Foi quando aceitou convite de
Moisés Fuks, jornalista, e presidente do Grupo Universitário
Hebraico um modesto centro de estudantes israelitas a quem Fuks
tentava animar promovendo pequenos espetáculo musicais nas noites de
quarta -feira. Mas como os estudantes sofriam com a falta de dinheiro
o normal é que o palco da associação fosse ocupado por associados
amadores que tinham alguma vocação artística.
Pensando em mudar esta situação, Fuks acionou o conhecido Ronaldo
Boscoli jornalista do Última Hora para convocar um pequeno grupo de
jovens que se reuniam no apartamento de uma garota chamada Nara ( a
futura cantora e intérprete da bossa nova Nara Leão) namorada de
Bôscoli.
Esses garotos eram Carlos Lyra, Chico Feitosa, Normando Santos e a
própria Nara, Roberto Menescal, também futuro nome importante da
bossa nova que tocava violão e já era semiprofissional e músicos
como o saxofonista Bebeto Castilho, o trompista Bill Horn, o
contrabaixista Henrique, o baterista João Mário e muitos outros
todos principiantes. Bôscoli que era letrista e por ser mais velho
tinha mais influência moral no grupo gostou da ideia de ver seus
amigos se apresentando num palco de verdade. Mas como todos eram
ainda solidamente desconhecidos ele temia que não atraíssem muita
gente e então pensou em alguém já famoso.
Foi aí que apareceu o nome de Sylvia Telles que era amiga de Ronaldo
e dos jovens.
Sylvia estava com vinte e três anos na época. Já era cantora
famosa e com forte reputação artística, até na televisão. Era o
dia 24 de agosto de 1958. Sylvia aceitou o convite de forma generosa
e humilde para se apresentar com um grupo de anônimos num espetáculo
gratuito que a princípio nada lhe renderia. Pois não só chegou na
hora combinada como cantou seu maravilhoso repertório e fez questão
de dividir os aplausos como os outros jovens que mal acreditavam no
que estava acontecendo.
Os Primeiros Shows da Bossa nova
O primeiro grande show universitário da bossa nova foi no anfiteatro
da Faculdade Nacional de Arquitetura, na Praia Vermelha no dia 22 de
setembro de 1959 comandado por Ronaldo Bôscoli e novamente estreado
por Sylvia Telles que se chamaria Samba- Session. Somente o
espetáculo seguinte na Escola Naval no dia 13 de novembro é que
seria chamado de Segundo Comando Da Operação Bossa Nova tendo sido
o da Faculdade de Arquitetura o primeiro.
Até então a bossa nova não se designava por este nome. Ser
“bossa nova” significava ter qualquer atitude diferente do usual.
O grupo que Ronaldo conhecia da casa de Nara Leão era diferente
portanto bossa nova.
Foi o que ele escreveu no release sobre o que seria apresentado
naquela noite no Grupo Universitário Hebraico- uma noite bossa nova
– e que pediu a secretária do Grupo Hebraico Lia Strauch para
mimeografar e mandar pelo correio aos associados. Foi também a
expressão que Lia usou no quadro-negro no próprio dia do
espetáculo:
HOJE- SYLVIA TELLES E UM GRUPO BOSSA NOVA
Acontece que terminado o show, Ronaldo Bôscoli gostou tanto da
expressão que juntamente com Fuks passou a repeti-la nas notícias
que plantava sobre a turma nos jornais.
Discos
Sylvia Telles lançou seu primeiro LP pela Odeon de 10 polegadas com
oito faixas intitulado Carícia, em
que ela aparecia vestida de egressa do Lago Dos Cisnes e no qual
cantava composições de gente que os colegas de Nara admiravam: Tom
Jobim e Newton Mendonça (“Foi a Noite”), Garoto (“Duas
Contas”) Tito Madi (“Chove Lá Fora”) Ismael Neto ( com Antônio
Maria) “Valsa de Uma Cidade”). A Odeon fazia grandes planos para
ela.
A Odeon poderia ter garantido com tranquilidade o monopólio da bossa
nova quando em 1960 temendo justamente isso a Philips provocou a
primeira grande fissura no movimento atraiu Carlos Lyra para suas
cores com a promessa de lançá-lo num disco individual.
Pouco depois, em 1961, foi o próprio
Aloysio de Oliveira (produtor, diretor de gravadora e marido de
Sylvia) que se deixou seduzir pela Philips
e levou com ele de saída Sylvinha, Lúcio Alves,o maestro Lindolfo
Gaya e César Vilela e o fotógrafo Chico Pereira responsáveis por
ser a primeira dupla gráfica da bossa nova e que criaram as famosas
capas em cores do movimento.
Pouco depois Aloysio desentendeu-se com a Philips e com ao apoio do
professor Celso Frota (padastro de Tom Jobim) fundou o selo Elenco.
Em toda as gravadoras por que passou
Aloísio produziu grandes discos principalmente os de Sílvia Telles
entre os quais um dos discos que consolidou a bossa nova Amor
de Gente Moça.
Também cantou em Bossa
Balanço , Balada pela Odeon
onde cantou ao lado de Lúcio Alves.
Morte
Aloysio de Oliveira planejava uma carreira internacional para Silvia
de quem se divorciara, afinal sua agora ex- mulher dominava
perfeitamente o inglês e o francês.
Na madrugada no dia 17 de dezembro de 1966 um sábado Sylvia entrou
em seu Fusca tendo ao lado sua cadelinha Nicole e seu ex-namorado
Horácio de Carvalho Jr. e partiram pela Rodovia Amaral Peixoto, rumo
a Maricá. Sylvia iria gravar um disco nos Estados Unidos mas adiara
a gravação para depois do Natal.
O dia começava a nascer quando de repente o Fusca ziguezagueou pela
pista no quilômetro 24 da estrada, Entrou debaixo de um caminhão
carregado de abacaxis, foi brutalmente arrastado por ele e despencou
num matagal, alguns metros abaixo. Os dois morreram na hora. A
Polícia Técnica do estado do Rio concluiu que o motorista Horacinho
dormira no volante.
Silvia Telles tinha apenas 31 anos de idade.
Foi a Noite ( Antônio Carlos Jobim- Newton Mendonça)
Foi a noite. foi o mar eu sei
Foi a lua que me fez pensar
Que você me queria outra vez
E que ainda gostava de mim
Ilusão eu bebi talvez
Foi o amor por você bem sei
A saudade que aumenta a distância
E a ilusão feita de esperança
Foi a noite
Foi o mar eu sei
Foi você
Esta gravação realizada em 1956 foi uma das gravações pioneiras
da bossa nova que começou o gênero e consolidou Sylvia Telles como
uma das grandes intérpretes do gênero.
Para ver uma interpretação de “
Foi a Noite” na voz da própria Sylvia Telles( interpretação
tirada do disco Carícia “
ver o link :
https://www.youtube.com/watch?v=WWvYUpKhVd0
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